Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
PERFIL DE CONSUMIDORES DE PESCADO EM COMUNIDADES UNIVERSITÁRIAS DA
REGIÃO METROPOLITANA DE CUIABÁ-MT
Elisangela Alves Sobrinho ARBEX
1
, Erika da Silva MACIEL
2
, Jorge Luiz Rodrigues PÉREZ
1
,
Luciana Kimie SAVAY-DA-SILVA
1
*
Artigo Cientíco: Recebido em 17/04/2017; Aprovado em 28/07/2017
1
Departamento de Alimentos e Nutrição, Faculdade de Nutrição, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Av. Fernando
Corrêa da Costa, 2367, Boa Esperança, 78060-900, Cuiabá, MT. Tel. (65) 3615-8596. *E-mail: lukimie@gmail.com
2
Centro Universitário Luterano de Palmas CEULP-ULBRA, Palmas, TO
FISH CONSUMER’S PROFILE IN UNIVERSITY COMMUNITIES OF THE
METROPOLITAN REGION OF CUIABÁ – MT
ABSTRACT
The objective of this research aimed to evaluate the consumption and prole of sh consumers in
university communities in the metropolitan area of Cuiabá-MT. In this research participated 1,224
volunteers from academic institutions, publics and privates, through the application of a structured
questionnaire was conducted, both electronically and personal interviews. The results presented
in percentages and frequency distributions. It was found 32,2% of the participants eat sh rarely,
the round sh are the favorites in the buying moment (48%) and more than half of the participants
(50,8%) used to buy sh in the supermarket. In relation to the attributes taken under consideration
when buying or sh consumption, most volunteers reported being “extremely important”: the
hygiene point of sale (78,3%), texture and consistency (60%), freshness (67,7%) and avor (65,6%);
40,5% of the participants said that the price is the factor that has the greatest negative inuence on
consumption. The conclusion is that sh consumers evaluated are mostly, young, single, women,
between the ages of 18 and 25, with a family income of 2-5 minimum salary, who consume sh
with the frequently lower than the world average, mainly due to the high price of the product and
the enhancement of quality attributes.
Key words: structured questionnaire; availability; price; quality.
RESUMO
Esta pesquisa objetivou avaliar o consumo e perl dos consumidores de pescado em comunidades
universitárias da região metropolitana de Cuiabá-MT. A pesquisa foi realizada com 1.224
voluntários de Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, através da aplicação de
questionário estruturado, por meio eletrônico e presencial. Os resultados foram apresentados em
porcentagens e distribuição de frequência. Vericou-se que 32,2% dos participantes raramente
consomem pescado, os peixes redondos são os preferidos no momento da compra (48%) e 50,8%
dos participantes costumam realizar a compra do pescado em supermercados. Com relação aos
atributos levados em consideração no momento da compra/consumo do pescado, a maioria dos
voluntários relatou ser “extremamente importantes”: a higiene do ponto de venda (78,3%), textura
e consistência (60%), frescor (67,7%) e sabor (65,6%); 40,5% dos participantes armaram que o
preço é o fator de maior inuência negativa para o consumo dessa matéria prima. Conclui-se que
os consumidores de pescado investigados são, em sua maioria, jovens, solteiros, mulheres, com
idade entre 18 e 25 anos, com renda família de 2-5 salários mínimos, que consomem pescado com
frequência e quantidade inferiores à média mundial, principalmente devido ao preço elevado do
produto e a valorização de atributos de qualidade.
Palavras-chave: questionário estruturado; disponibilidade do pescado; preço; qualidade.
ARBEX et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
18
INTRODUÇÃO
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geograa
e Estatística (IBGE), em 2015, a produção total da
piscicultura brasileira foi de 483,24 mil t, sendo esse
valor 23,12% maior que o total produzido em 2013.
A Região Norte foi a que apresentou os maiores
índices de produção, sendo o estado de Rondônia
classicado em primeiro lugar entre os estados com
maior produção do país, com um total de 84,49 mil
t de peixes. O Mato Grosso, por sua vez, caiu para
a terceira posição, com 47,44 mil t (BRASIL, 2015).
Juntamente com a produção, temos vivenciado
um aumento do consumo aparente anual de pescado,
passando de 9,9 Kg per capita na década de 1960
para 19,7 Kg per capita em 2013 (FAO, 2016). Isso se
deve, principalmente, à busca por alimentos mais
saudáveis.
Segundo MACIEL et al. (2012), o pescado, dentre
os outros alimentos, se destaca por suas características
nutricionais e sua associação com a qualidade de
vida, fatores que o fazem cada vez mais valorizado
em todo o mundo. Contém, comparativamente
a outros produtos de origem animal, proteína de
alta digestibilidade e valor biológico, pois possui,
na maioria das espécies, completa composição em
aminoácidos essenciais. Além disso, a carne do
pescado é rica em minerais como cálcio, fósforo,
ferro, magnésio, potássio, zinco, cobre, selênio e
iodo. Com relação às vitaminas, as que aparecem
em maior quantidade são a A, D e as do complexo
B. Dentre os possíveis benefícios da ingestão
regular de pescado, com presença de ácidos graxos
poliinsaturados ômega-3, estão: redução do risco de
Acidente Vascular Cerebral (AVC); depressão; Mal
de Alzheimer e morte por doenças cardíacas, além
de ajudar na prevenção de alguns tipos de câncer
(mama, próstata e cólon) e na redução da incidência
de aterosclerose (RUXTON, 2011; SARTORI e
AMANCIO, 2012; TACON e METIAN, 2013).
Mesmo apresentando todos esses benefícios,
o consumo per capita aparente de pescado ainda
é muito variável, regiões que no ano de 2013
apresentaram um consumo médio de 26,6 Kg.hab
-1
.
ano
-1
(países industrializados) e outras com um
consumo médio de 7,6 Kg.hab
-1
.ano
-1
(países de baixa
renda com décit alimentar) (FAO, 2016).
Conhecer a disponibilidade dos recursos locais,
especialmente no que se refere aos alimentos
regionais e aos padrões culturais é importante para
que se possa compreender como se dão os hábitos
alimentares e padrões de consumo já que alguns
podem ser prejudiciais à saúde. Segundo (VAZ e
BENNEMAN, 2014), o perl dos indivíduos, quanto
ao comportamento e hábito alimentar, inuencia
diretamente no estilo de vida, podendo ser favorável
ao sobrepeso, obesidade e doenças crônicas não
transmissíveis.
Entre as principais razões para o baixo consumo
de pescado no Brasil estão: falta de costume e
informações; e o elevado preço se comparado aos
outros tipos de proteína de origem animal (GRACIA,
2003 e VASCONCELLOS et al., 2013). Além disso,
o pescado, muitas vezes, não está disponível aos
consumidores na quantidade e qualidade desejados
e, atualmente, há um aumento no interesse por
alimentos de conveniência, ou seja, de fácil preparo e
com atributos de qualidade. A tendência da procura
por alimento seguro tem sido outra constante nos
últimos anos e vai ao encontro das expectativas dos
consumidores (MACIEL et al., 2013a).
VASCONCELLOS et al. (2013), realizaram uma
pesquisa visando identicar os fatores determinantes
para o consumo de pescado em feiras-livres na
cidade de Santo André/SP e apuraram que os
fatores favoráveis ao consumo são a preferência
pela compra de peixe em feiras livres, aparência,
rmeza, apresentação fresca, bem como o nível de
escolaridade e a renda mensal do entrevistado. E
como fatores desfavoráveis ao consumo o preço,
presença de espinhas, perecibilidade, odor, etnia,
proximidade com os pontos de venda da residência
e trabalho, gênero, idade, número de pessoas no lar
e a presença de crianças no mesmo.
Nos últimos anos tem-se observado uma
mudança no perl alimentar da população, o que,
associado à oferta de pescado de qualidade no
mercado interno – com bons preços, conveniência,
altos índices de frescor e valor nutritivo, certicado
de origem e programas de garantia da qualidade
como Selo de Inspeção Federal (SIF), por exemplo
pode direcionar o consumo, em especial pela oferta
de novas formas de apresentação deste alimento
(GERMANO e GERMANO, 2008; MACIEL et al.,
2012).
A população da região metropolitana de Cuiabá-
MT é formada por diversas etnias, além de povos
indígenas oriundos da região. Essa combinação
geográca, com múltiplas culturas, desenvolveu uma
cultura gastronômica rica e baseada em produtos locais.
Exemplo disso são os pratos à base de peixe, que se
tornaram marco cultural da cidade
(FAMATO, 2014).
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Perl de consumidores de pescado em comunidades universitárias... .
19
PEREIRA et al. (2010) concluíram em análise
da legislação e dos sistemas agroindustriais e de
inspeção de peixes existentes no Brasil, que a
indústria ainda enfrenta muitos problemas e que a
mesma tem potencial para o crescimento na produção
e fortalecimento do consumo. Torna-se, então,
justicável identicar o perl dos consumidores
de pescado da região de Cuiabá-MT, como forma
de auxiliar a colocação dessa matéria prima e seus
produtos no mercado.
Assim, o objetivo deste trabalho foi realizar um
levantamento de dados sobre o consumo e perl
dos consumidores de pescado em comunidades
universitárias da região metropolitana de Cuiabá-MT.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada por meio de aplicação de
um questionário estruturado e validado, adaptado
de MACIEL et al. (2013b). Fizeram parte do universo
do estudo 1.224 participantes voluntários (alunos
de graduação, pós-graduação, servidores docentes
e não docentes) de Instituições de Ensino Superior,
públicas e privadas, das cidades de Cuiabá e Várzea
Grande, no Estado de Mato Grosso.
O levantamento de dados ocorreu no primeiro
semestre de 2016, e se deu através de: a) abordagem
das pessoas que transitavam nas universidades;
b) coleta de dados por meio de questionário online
disponibilizado no portal da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) (http://www.ufmt.br/ufmt/
site/noticia/visualizar/27735/Cuiaba) e c) e-mails e
mídias sociais. Este estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, CAAE
19089913.5.0000.5541.
As questões contidas no questionário estavam
divididas em três categorias, a saber:
Caracterização do entrevistado – este item
levantou questões tais como: sexo; idade; categoria
dentro da instituição (aluno, servidor ou docente); se
era aluno de instituição de ensino pública ou privada;
número de pessoas que residem no domicílio; e renda
familiar.
Caracterização do consumo – neste item foram
considerados: frequência de consumo; fatores que
inuênciam negativamente no consumo; quantidade
consumida; espécie mais consumida; preferência
quanto ao local de compra e consumo; à forma de
conservação do pescado (fresco, congelado ou pronto
para consumo); à forma de apresentação [inteiro,
postas, ventrechas, lés, industrializados processados
(porcionados, empanados, enlatados, etc.)].
Satisfação quanto ao pescado ofertado – neste item
foi avaliada a escala de satisfação do consumidor com
relação: à qualidade do pescado ofertado no mercado;
preço; sabor; textura/consistência; frescor; higiene do
ponto de venda; o fato de possuir escamas/espinhas;
origem do produto; embalagem; valor nutricional;
e Selo de Inspeção. As respostas às questões desse
item eram de múltipla escolha, estruturadas em
uma escala Likert de cinco pontos, conforme sua
importância: 1= “nada”, 2= “muito pouco”, 3=
“médio”, 4= “muito” e 5= “extremamente”.
A análise dos resultados foi realizada com o
auxílio do Software Statistical Package for Social
(SPSS), versão 15.0, considerando o nível de
significância p < 0,05, também foram realizadas
diversas provas de hipóteses paramétricas e não
paramétricas, considerando o tipo de distribuição,
assim como testes de avaliação dos valores extremos.
As respostas obtidas foram submetidas à análise
estatística descritiva.
RESULTADOS
Na Tabela 1 observa-se o perl dos voluntários
participantes da pesquisa no que se refere ao sexo,
idade, estado civil, categoria da instituição de ensino,
número de pessoas que moram na residência e renda
familiar.
Em relação ao perl dos participantes a maioria é
do sexo feminino, mora em residências com mais de
4 pessoas, são alunos de graduação de universidade
pública e solteiros, sendo a faixa etária com maior
representatividade entre 18 e 25 anos.
Com relação ao perl econômico dos participantes,
a maior parte deles apresenta uma renda familiar
entre R$ 1761,00 e 4400,00 (2 a 5 salários mínimos)
(Tabela 1).
Com relação à preferência de compra do pescado,
no que se refere ao tipo de conservação que o mesmo
se encontra, a opção “resfriado” foi a que obteve
maior índice de respostas (39,7%), seguido da opção
“pronto para consumo” (36%).
A forma de apresentação do pescado preferida
pelos voluntários são os lés (35,7%), seguido do
pescado inteiro (20,4%) e ventrechas (corte regional,
também conhecido como costelinha) (17,1%), e com
a menor preferência os industrializados (3,4%)
(Tabela 2).
ARBEX et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
20
Sexo
N
Frequência %
Masculino 479 39,1
Feminino 745 60,9
Idade
N
Frequência %
Menos de 18 anos 32 2,7
Entre 18 e 25 anos 755 61,7
Entre 26 e 32 anos 211 17,2
Entre 33 e 39 anos 129 10,5
Entre 40 e 46 anos 69 5,6
Acima de 46 anos 28 2,3
Estado Civil
N
Frequência %
Solteiro 914 74,7
Casado 233 19,0
Separado/divorciado 31 2,5
Viúvo 6 0,5
Outros 40 3,3
Instituição de ensino
N
Frequência %
Pública 652 53,3
Privada 572 46,7
Categoria
N
Frequência %
Alunos de graduação 1044 85,3
Aluno de pós-graduação 45 3,7
Mestrado 38 3,1
Doutorado 9 0,7
Servidores docentes 43 3,5
Servidores não docentes 10 0,8
Outros 35 2,9
Quantidade de pessoas que moram na casa
N
Frequência %
1 pessoa 3 0,2
2 pessoas 163 13,3
3 pessoas 282 23,0
Mais de 4 pessoas 776 63,5
Renda Familiar
N
Frequência %
Até R$ 880,00 120 9,8
Entre R$ 881,00 e R$ 1760,00 209 17,1
Entre R$ 1761,00 e R$ 4400,00 447 36,5
Entre R$ 4401,00 e R$ 7040,00 183 15,0
Entre R$ 7041,00 e R$ 8800,00 93 7,6
Acima de R$ 8800,00 172 14,1
Tabela 1. Perl dos voluntários, de comunidades universitárias da região metropolitana de Cuiabá-MT, participantes
da pesquisa.
Com relação à frequência de consumo, destaca-se
que 32% dos voluntários disseram consumir raramente
o pescado em suas refeições. E 43% dos participantes
disseram consumir menos de 100 gramas de pescado por
semana. A preferência, com relação às espécies de pescado,
foi pelo consumo de peixes redondos (pacu, tambacu,
tambaqui, tabatinga) com 48% das respostas, seguido dos
peixes de couro (pintado, surubim e bagre) (26%) (Tabela 3).
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Perl de consumidores de pescado em comunidades universitárias... .
21
O local de compra mais citado pelos participantes
desta pesquisa foi o supermercado (50,8%). A Feira do
Porto de Cuiabá (MT), local tradicional no comércio
de hortifrutigranjeiros, grãos, doces e carnes, foi citada
como local de preferência para compra do pescado por
12,7% dos voluntários. E no que se refere ao local de
consumo, mais da metade dos entrevistados disseram
consumir o pescado em sua própria residência (62,3%),
(Tabela 4).
Dentre os principais fatores que influenciam
negativamente o consumo de pescado, pela população
investigada, está o preço elevado (Tabela 5).
Conservação do
Pescado
Inteiro
Inteiro eviscerado
Postas
Ventrechas*
Filés
Industrializados**
Total %
Resfriado
9,2 6,0 5,6 6,9 11,6 0,6 39,7
Congelado
4,6 2,8 1,6 3,0 11,1 1,1 24,3
Pronto para consumo***
6,7 3,4 4,0 7,2 13,0 1,7 36,0
Totais %
20,4 12,2 11,2 17,1 35,7 3,4 100%
*Ventrechas: corte regional, também conhecido como costelinha; **Industrializados: produtos processados
industrialmente, como, por exemplo, nuggets, hambúrguer, presunto...; ***Pronto para consumo: produtos
disponíveis em rotisseries, buffets, restaurantes, bares e lanchonetes.
Tabela 2. Preferências na forma de aquisição do pescado por comunidades universitárias da região metropolitana
de Cuiabá-MT.
Frequência de consumo n %
Todos os dias 6 0,5
2 ou mais vezes na semana 84 6,9
1 vez na semana 235 19,2
2 a 3 vezes ao mês 294 24
1 vez ao mês 210 17,2
Raramente 395 32,2
Total 1224 100%
Quantidade consumida por semana n %
Menos de 100g 535 43,7
Entre 100 e 200g 319 26,1
Entre 200 e 300g 121 9,9
Entre 300 e 500g 77 6,3
Mais de 500g 27 2,2
Outros 145 11,8
Total 1224 100%
Espécies mais consumidas n %
Peixes de couro 321 26,2
Peixes redondos 588 48,0
Peixes de água salgada 178 14,5
Bacalhau e peixes salgados 31 2,5
Frutos do mar 42 3,4
Outros 64 5,2
Total 1224 100%
Tabela 3. Frequência, quantidade e espécies de pescado mais consumidas nas comunidades universitárias da região
metropolitana de Cuiabá-MT.
ARBEX et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
22
Local de compra N %
Supermercado 621 50,8
Açougues especializados 124 10,1
Feira do Porto 155 12,7
Direto do produtor/pescador 241 19,7
Feiras livres de bairros 83 6,7
Total 1224 100
Local de consumo
N %
Na sua casa 762 62,3
Na casa de parentes e amigos 154 12,6
Em restaurantes 214 17,5
No restaurante Universitário 60 4,8
Outros 34 2,8
Total 1224 100
*Feira do Porto: local tradicional na cidade de Cuiabá-MT, onde são comercializados hortifrutigranjeiros, grãos, doces
e carnes.
Tabela 4. Local de compra e de consumo de pescado preferidos por comunidades universitárias da região metropolitana
de Cuiabá-MT.
Fatores negativos n %
Preço elevado 495 40,5
Não sabe preparar 219 17,9
Diculdade para avaliar o produto 60 4,9
Não gosta 167 13,6
Problema de saúde 21 1,7
Disponibilidade no local de compra 171 14,0
Poucos restaurantes ofertam esse produto pronto para consumo 86 7,0
Outros 5 0,4
Total 1224 100%
Tabela 5. Fatores que inuenciam negativamente o consumo do pescado segundo os voluntários das comunidades
universitárias da região metropolitana de Cuiabá-MT.
Observa-se ainda a insatisfação dos participantes
quanto à qualidade do pescado disponível no
mercado nacional (Tabela 6), sendo “média”
(48,8%) a resposta com maior índice de frequência.
Ressalta-se que, durante a execução desta pesquisa,
não foi apresentada aos voluntários entrevistados,
nenhuma referência para determinar o que seriam
as características inerentes a um pescado de
“qualidade”, tema que pode ser estudado futuramente
considerando que a falta de informação quanto a
estas caraterísticas afetam o consumo do mesmo. O
preço foi o fator de inuência negativa no consumo
mais citado, recebendo uma frequência de resposta
de 68,8% entre as escalas “muito importante” e
“extremamente importante”. Nos demais atributos de
qualidade avaliados observou-se que a porcentagem
de respostas armando que esses são extremamente
importantes variou de 45 a 54% (Tabela 6).
Atributos
Escala Likert (%)
Nada
Muito
pouco
Médio Muito Extremamente Total
Qualidade 6,4 18,1 48,8 18,1 8,6 100
Preço 3,7 4,6 22,9 32,4 36,4 100
Sabor 3,1 1,6 7,1 22,6 65,6 100
Textura/consistência 3,5 1,8 9,2 25,5 60,0 100
Frescor 3,1 2,0 7,0 20,2 67,7 100
Higiene 2,9 2,4 5,2 11,2 78,3 100
Escamado/sem espinhas 4,6 5,6 19,5 22,5 47,8 100
Origem/procedência 3,9 4,9 15,5 26,3 49,4 100
Embalagem 4,1 5,6 18,8 25,7 45,8 100
Valor nutricional 4,7 6,5 15,5 24,7 48,6 100
Selo de inspeção 6,9 7,4 13,1 18,6 54,0 100
Tabela 6.
Frequência de respostas em cada nível da escala para avaliar satisfação e importância dos atributos de qualidade
do pescado para consumo, segundo voluntários de comunidades universitárias da região metropolitana de Cuiabá-MT.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Perl de consumidores de pescado em comunidades universitárias... .
23
DISCUSSÃO
Nota-se que a amostra estudada apresenta um
perl de público potencial (Tabela 1) ao qual, pode-
se estimular o consumo de pescado, pois a maioria
é jovem, e por serem universitários ainda estão em
processo de formação de opinião, sendo propício o
investimento em marketing a respeito dos benefícios
que o consumo de pescado pode trazer para a saúde
da população.
Além disso, os voluntários participantes desta
pesquisa têm maior preferência pelo consumo
em suas próprias residências (62,3%) seguido de
restaurantes (17,5%), o que comprova a importância
dos hábitos alimentares da região estudada, pois,
conforme pesquisa realizada pela Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso
(FAMATO), a região metropolitana de Cuiabá
desenvolveu uma cultura gastronômica rica e baseada
em produtos locais, como os pratos à base de peixe,
sendo esses tradicionais na região (FAMATO, 2014).
E quanto a aquisição do pescado, a preferência
é para os lés resfriados (35,7%), o que indica uma
escolha pela praticidade e rapidez no preparo e
no consumo desse tipo de alimento, informações
coerentes com o estilo de vida da população avaliada.
O pescado, todavia, é um produto altamente
perecível, e tal fato deve ser considerado por todos
os atores da cadeia de produção e comercialização,
de modo que se faz necessário assegurar ao
consumidor as características nutricionais, sensoriais
e de qualidade, valorizando corretamente a carne
resfriada e a preservação de suas características
sensoriais.
Ao se avaliar o elevado índice de preferência
pelo pescado pronto para consumo (rotisseries/
restaurantes) (36% - Tabela 2), nota-se que uma
parcela considerável dos entrevistados que poderia
contribuir para o aumento do comércio e consumo
de pescado, caso os restaurantes comerciais locais ou
os próprios restaurantes universitários ofertassem o
mesmo dessa forma.
Os resultados desta pesquisa demonstram também
uma baixa preferência por produtos industrializados
(3,4%) como nuggets, hambúrguer ou presunto, o que
é intrigante já que atualmente há uma maior busca
por produtos de fácil preparo, motivada pelo novo
estilo de vida que atinge principalmente os jovens
adultos que é a população mais representativa nesta
pesquisa. Entende-se como necessário investimento
por parte da indústria, em marketing dos produtos
já existentes e desenvolvimento de novos produtos,
mais atraentes ao paladar do consumidor e/ou
acessíveis economicamente, que o preço é um
dos fatores que mais inuenciam negativamente na
decisão de consumo.
Em uma pesquisa a respeito de hábitos de
consumo de pescado em universidades no Brasil e
em Portugal, os autores vericaram baixos índices de
consumo desse alimento pelos brasileiros, resultados
semelhantes aos encontrados nesta presente pesquisa
(Tabela 3). Em ambas as pesquisas houve uma alta
frequência de respostas nas opções “raramente” ou
“uma vez por mês” entre os brasileiros contrastando
com as respostas obtidas para os participantes de
origem portuguesa, para os quais se observou que
mais de 90% dos participantes consumiam pescado
em suas refeições pelo menos uma vez por semana
(MACIEL et al., 2016).
Tais dados comprovam a importância deste tipo
de pesquisa, pois é preciso caracterizar o perl dos
consumidores de pescado para que ações pontuais
sejam aplicadas para estimular esse consumo.
VASCONCELLOS et al. (2013) relatam a escassez de
trabalhos publicados sobre o perl dos consumidores
de pescado no Brasil, e ressaltam a sua importância
para identificar os fatores determinantes para o
comportamento do consumo alimentar, com a
expectativa de se obter dados que promovam a
melhoria e a qualidade da comercialização do
pescado brasileiro.
A frequência e a quantidade de pescado
consumido pela população estudada (Tabela 3) estão
abaixo da média mundial. Segundo a FAO (2016),
o consumo mundial per capita aparente de pescado
praticamente dobrou da década de 1960 para o ano
de 2013, passando de 9,9 Kg.hab
-1
.ano
-1
para 19,7
Kg.hab
-1
.ano
-1
em 2013. E uma espectativa de que
o consumo per capita aparente para os anos de 2014
e 2015 tenha sido maior de 20 Kg.hab
-1
.ano
-1
.
Esses resultados comprovam as afirmações
relatadas na literatura de que no Brasil o pescado
é uma das proteínas animal menos consumida.
Verica-se que no período de 2010 a ingestão média
de pescado, pelos brasileiros, foi de 9,75 Kg.hab
-1
.
ano
-1
(BRASIL, 2012), enquanto o consumo de
aves apresentou uma média de 44,1 Kg.hab
-1
.ano
-1
,
seguido de bovinos, 35 Kg.hab
-1
.ano
-1
e suínos, 14,8
Kg.hab
-1
.ano
-1
(SANTOS-FILHO et al., 2017).
O consumo de determinado tipo de carne
pode ser influenciada pelos hábitos alimentares
e tradições de cada região do país, grupo social e
ARBEX et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
24
comportamento alimentar da população, percebe-se
que essa questão é bem inuente no que se refere aos
hábitos de consumo do pescado em Cuiabá e região,
visto que nessas localidades existem inúmeras festas
religiosas ao longo do ano e estas têm forte ligação
e representação de comunidades de pescadores,
aumentando o consumo de pescado em determinado
período.
Por Cuiabá pertencer à região pantaneira,
com grande oferta de peixes de água doce, houve
preferência dos participantes desta pesquisa pelos
peixes redondos, seguido dos peixes de couro,
o que já era esperado, reforçando a influência
geográca e climática nas escolhas alimentares da
população, que culturalmente desenvolve o hábito
de consumir os alimentos que tem maior oferta em
sua região (FAMATO, 2014), inuenciados ainda pela
disponibilidade, acesso e preço.
Ainda sobre as espécies mais consumidas, os
resultados apresentados na Tabela 3 são similares
aos apresentados por uma pesquisa realizada pela
FAMATO em 2014, na qual consta que os peixes
redondos foram os favoritos de mais de 48,3% dos
entrevistados no município de Cuiabá-MT, seguidos
pelos bagres de couro com 28,1% (FAMATO, 2014).
A maior prevalência de compra do pescado
em supermercados (Tabela 4), declarada pelos
participantes desta pesquisa, é justificada pela
comodidade, uma vez que, nesses estabelecimentos,
o consumidor adquire diversos outros gêneros de
consumo. E também por poder realizar o pagamento
do produto a prazo (cartão de crédito) e pela
disponibilidade de estacionamento, ar condicionado
nas lojas e lanchonetes. Fatores relacionados às
condições mais favoráveis de higiene do local e do
pescado também podem ser considerados relevantes
(KUBITZA, 2002). Outras pesquisas como as
realizadas por MACIEL et al. (2013a; 2013b) também
encontraram resultados semelhantes.
No que se refere ao principal local de consumo
do pescado (Tabela 4), resultados similares foram
apresentados pela pesquisa realizada pela FAMATO
(2014), que teve como principal resposta, quanto ao
local de consumo de pescado, a própria residência
do entrevistado (76,9%); seguidos por restaurantes
(13,9%) e casa de parentes ou amigos (8,4%).
MACIEL et al. (2013b) ao avaliarem voluntários
também de comunidade universitária, com perl
semelhante ao desta pesquisa identificou que a
maioria dos participantes (56,7%) também consumia
pescado em sua própria residência e 30,6% em
restaurantes. Esses mesmos autores armaram que
63,3% dos voluntários entrevistados consumiam
pescado no restaurante universitário, contrariando os
resultados obtidos nesta pesquisa realizada na região
metropolitana de Cuiabá-MT, na qual somente 4,8%
dos participantes armaram consumir pescado no
restaurante universitário.
O que poderia justificar o baixo consumo de
pescado nos restaurantes universitários da região
de Cuiabá-MT seria, principalmente, a falta de
regularidade na oferta deste produto no cardápio
dessas instituições (frequência), pois muitos
entrevistados relataram que se esse tipo de proteína
fosse ofertado com maior frequência eles estariam
dispostos a consumi-la. Além disso, a preferência
pela ingestão de outros tipos de carnes, assim como
preparações que não agradam os comensais foram
outros fatores negativos citados.
O estudo permitiu reconhecer que o preço e
desconhecimento sobre o preparo do pescado
(Tabela 5) foram os fatores negativos mais relevantes
em relação ao consumo. Da mesma forma, em um
estudo realizado no Reino Unido, que pesquisou
os benefícios do consumo de pescado, percebeu-se
que o baixo consumo deste estava mais relacionado
às diculdades no preparo, manuseio e custo do
produto do que com características como sabor e
cheiro do pescado (RUXTON, 2011).
A inuência do preço na frequência e quantidade
de pescado consumido pela população estudada
foi apontada por 40,5% dos participantes como
principal motivo do baixo consumo de pescado
(Tabela 5) e por 68,8 % como sendo um fator “muito”
ou “extremamente” importante no momento
da aquisição e consumo do pescado (Tabela 6),
confirmando os relatos existentes sobre isso na
literatura (MACIEL et al., 2012; MACIEL et al., 2013a;
VASCONCELLOS et al., 2013; MACIEL et al., 2016).
Tais resultados corroboram com aqueles
encontrados na pesquisa de FAMATO (2014), no qual
40,7% dos entrevistados responderam que se o preço
fosse menor eles consumiriam mais pescado e, 33,1%
armaram que o incluiriam na rotina alimentar, com
a intenção de adotar práticas de alimentação mais
saudáveis.
Além da forte influência dos altos preços, o
consumo de pescado também é prejudicado por
inconsistências de qualidade do produto na cadeia
de produção (MACIEL et al., 2012). Isso também
se comprova nesta pesquisa (Tabela 6), pois os
voluntários participantes disseram considerar
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Perl de consumidores de pescado em comunidades universitárias... .
25
extremamente importantes questões como higiene do
ponto de venda, frescor, sabor e textura/consistência
do pescado, evidenciando que esses atributos são
relevantes para a aquisição e consumo, e devem
receber uma atenção especial pelos produtores e
pelos comerciantes.
SOARES (2007), por sua vez, em sua pesquisa,
identicou dois pers de consumidores de pescado
no Brasil. O primeiro é de consumidores mais
exigentes quanto a qualidade e regularidade de
oferta do pescado, não tendo restrições quanto ao
congelamento do pescado e adquirindo o mesmo em
grandes varejistas, supermercados e boutiques de
pescado. O segundo relaciona a qualidade ao nível
de frescor do pescado, mesmo que a regularidade de
oferta seja afetada, este perl considera importante
o tempo gasto entre a despesca e a comercialização
e prefere adquirir o pescado em feiras, mercados
públicos considerando como fator determinante para
compra o preço praticado.
Com isso, pode-se armar que as características
sensoriais são determinantes para que o consumidor
faça sua escolha e a preocupação com estas
características reforça que a população está atenta a
quesitos que devem ser obrigatoriamente preservados
pelos produtores e comerciantes, além de scalizados
pelos órgãos competentes. VASCONCELLOS et
al. (2013), apresentam resultados semelhantes, em
uma pesquisa realizada em várias feiras livres na
cidade de São Paulo, na qual, os consumidores de
pescado entrevistados foram questionados sobre a
importância atribuída à aparência do produto e as
respostas apresentaram associação positiva entre a
importância do produto, aparência e consumo do
pescado, indicando que a percentagem de consumo
do pescado aumenta proporcionalmente com a
melhor aparência do produto comercializado.
As respostas observadas para os atributos
de qualidade “origem”, “embalagem”, “valor
nutricional”, “escamado e sem espinhas” e “selo
de inspeção”, sugerem que a população estudada
apresenta uma mudança de seu comportamento,
e que talvez esse resultado seja mais notório pela
população estudada ser composta em sua maioria
por jovens (18 a 25 anos), com maior acesso a
informações e por isso mais preocupada com
questões de segurança alimentar e qualidade dos
produtos adquiridos e consumidos.
Outros estudos (MACIEL et al., 2013a e
VASCONCELLOS et al., 2013) trazem resultados
que corroboram com os observados na comunidade
acadêmica de Cuiabá e região, pois os resultados
da pesquisa desses autores mostram que um dos
principais grupos de atributos considerados no
momento do consumo de pescado é o grupo do
atributo “qualidade” e “aparência”.
Sendo assim, iniciativas de incentivo, provenientes
do governo e entidades relacionadas, para que o
comércio local possa ofertar o pescado com preço
mais acessível e com a qualidade dos produtos
assegurada são de grande importância para que
a inserção desta proteína na dieta da comunidade
universitária seja ampliada. Algumas ações já
são realizadas nesse sentido, como, por exemplo,
a Semana do Peixe, realizada anualmente pelo
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
(MAPA), que é um evento de abrangência nacional,
com o objetivo de fomentar o consumo de pescado no
Brasil através da comercialização do pescado a preços
mais acessíveis em redes de supermercado, hotéis e
restaurantes cadastrados (MACIEL et al., 2009).
E de abrangência local pode-se citar o Programa
Peixe Santo, realizado anualmente, desde 1991, pela
Prefeitura Municipal de Cuiabá, que proporciona
condições para comercialização, durante a Semana
Santa, do pescado produzido localmente, com
preços acessíveis, em diversos pontos de venda.
No ano de 2017, em apenas três dias de evento, foi
realizada a venda de 140 t de peixes, em 30 pontos de
comercialização em Cuiabá, resultado 15% superior
ao ano anterior (BRASIL, 2017).
Além disso, a implementação na indústria de
novas técnicas de processamento e o desenvolvimento
de novos produtos de conveniência, utilizando o
pescado como matéria prima, são fatores importantes
para a mudança desse cenário. Essas são questões
complexas e que envolvem vários setores da
sociedade, entretanto, podem ser trabalhadas para
que tanto o setor produtivo quanto a população
possam ser beneciados, seja pelo ponto de vista
nutricional ou com relação a qualidade dos produtos
comercializados atualmente.
CONCLUSÃO
O perl da comunidade universitária estudada da
região metropolitana de Cuiabá é de jovens solteiros,
maioria do sexo feminino, com idade entre 18 e 25
anos, residindo em casa com 4 ou mais pessoas,
tendo uma renda familiar de 2 a 5 salários mínimos,
e, que estão consumindo pescado com frequência
ARBEX et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
26
e quantidade inferiores àquela recomendada pela
Organização Mundial da Saúde e tal fato está
diretamente relacionado ao seu elevado preço e
indisponibilidade de oferta. São fatores também
determinantes da escolha do produto os atributos
de qualidade para decidir pela compra do pescado.
AGRADECIMENTOS
Ao Núcleo de Estudos em Pescado (NEPES), da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por
toda colaboração durante o desenvolvimento desta
pesquisa.
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