Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
ESTIMATIVA DA EXPOSIÇÃO HUMANA AO MERCÚRIO PELO CONSUMO DE ATUNS
DA COSTA LITORÂNEA BRASILEIRA*
Flávia Beatriz CUSTÓDIO
1,2
, Arthur Magno Guedes Franco de ANDRADE
1
,
Aisa Dias Oliveira DEL RIO
1
, Maria Beatriz Abreu GLÓRIA
1,2
Artigo Cientíco: Recebido em 17/04/2017; Aprovado em 28/07/2017
1
LBqA - Laboratório de Bioquímica de Alimentos, Departamento de Alimentos, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de
Minas Gerais. Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais, 31270-901, Brasil.
2
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Antônio
Carlos, 6627, Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais, 31270-901, Brasil.
Present address: Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro campus Macaé, Rua Aloísio da Silva Gomes 50, Granja
dos Cavaleiros, Macaé, Rio de Janeiro, 27930-560, Brasil. E-mail: aviabcustodio@macae.ufrj.br (autor correspondente).
*Apoio nanceiro: CNPq, FAPEMIG, CAPES
ESTIMATION OF HUMAN EXPOSURE TO MERCURY VIA TUNA CONSUMPTION
FROM BRAZILIAN COAST
ABSTRACT
Fish consumption has been encouraged, but there is still concern about the presence and ingestion
of inorganic contaminants such as mercury. The aim of this study was to evaluate Brazilian dietary
exposure to mercury by the consumption of tuna from Brazilian coast. Tuna samples (52) were
collected and analyzed for total mercury. The estimated exposure was calculated based on total
mercury levels found in the samples and the estimate of marine sh consumption by Brazilian
population. Mercury levels in tuna were below the limit established by Brazilian law for predatory
sh (1.00 mg kg
-1
). The estimated mercury exposure for mean consumption of tunas by Brazilian
population represented 11% of the provisional tolerable weekly intake for methylmercury. Even
in the Northern region of Brazil, that has the highest consumption of marine sh, the estimated
mercury exposure by tuna consumption represented 31% of the provisional tolerable weekly
intake for methylmercury. However it would be important to undertake further studies including
mercury levels in other sh and also considering the stratied consumption by states and regions.
Key words: total mercury; inorganic contaminant; sh quality; dietary exposition.
RESUMO
O consumo de peixes tem sido incentivado, mas ainda existe a preocupação com a presença e a
ingestão de contaminantes inorgânicos, como o mercúrio. O objetivo deste trabalho foi avaliar
a exposição alimentar da população brasileira ao mercúrio pelo consumo de atuns da costa
brasileira. Para isso, foram coletadas 52 amostras de atuns e analisadas quanto ao teor de mercúrio
total. A estimativa da exposição foi calculada a partir dos teores de mercúrio total encontrados
nas amostras e na estimativa de consumo de peixes de água salgada pela população brasileira.
Os teores de mercúrio nos atuns estavam abaixo do limite estabelecido pela legislação brasileira
referente a peixes predadores (1,00 mg kg
-1
). A estimativa da exposição a mercúrio pelo consumo
médio de atuns pela população brasileira representou 11% da ingestão semanal tolerável provisória
para metilmercúrio. Mesmo na região Norte do Brasil, que apresenta o maior consumo de peixes
de água salgada, a estimativa da exposição a mercúrio pelo consumo de atuns representou 31% da
ingestão semanal tolerável provisória para metilmercúrio. No entanto, seria importante realizar
mais estudos incluindo os teores de mercúrio em outros peixes e considerando também o consumo
estraticado por estados e regiões brasileiras.
Palavras-chave: mercúrio total; contaminante inorgânico; qualidade do pescado; exposição
alimentar.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Estimativa da exposição humana ao mercúrio pelo consumo de atuns...
29
INTRODUÇÃO
A produção de pescado pelo Brasil continua
sendo representada majoritariamente pela pesca
extrativa marinha. Dentre os produtos dessa pesca
está o atum, que em 2009 apresentou uma produção
de 340,3 t e em 2011, aumentou para 1718,0 t (BRASIL,
2011). Apesar da importância da pesca na economia
brasileira e a relevância do consumo de pescado
para a saúde da população, o consumo alimentar
de pescado per capita no Brasil ainda está aquém do
recomendado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), que é de no mínimo 12 kg
-1
per capita por
ano (IBGE, 2011; WHO/FAO, 2011).
Em contraste com a importância do pescado
para a saúde humana relacionada à composição
em nutrientes, como proteínas e ácidos graxos poli-
insaturados ômega-3 (WHO, 2007; WHO/FAO, 2011;
SANTOS et al., 2013), os peixes podem contribuir
signicativamente na exposição alimentar de alguns
contaminantes orgânicos e inorgânicos. O mercúrio se
acumula na cadeia alimentar, sendo os peixes e frutos
do mar as principais fontes de exposição alimentar
para o homem (KASPER et al., 2009; KEHRIG et al.,
2010; WHO/FAO, 2011). As formas orgânicas do
mercúrio são altamente lipossolúveis e se acumulam
principalmente no cérebro humano, levando a
neurotoxicidade. Fetos e crianças nas fases iniciais
de desenvolvimento são mais sensíveis à exposição
ao mercúrio podendo apresentar paralisia cerebral,
retardo do desenvolvimento de várias funções
psicomotoras, dentre outros sintomas (JECFA, 2007;
CLARKSON e MAGOS, 2006; MERGLER et al., 2007;
WHO/FAO, 2011).
O acúmulo de mercúrio é maior em algumas
espécies de peixes do que em outras. Fatores
como idade, tamanho do peixe, ambiente, e fontes
alimentares podem influenciar nesse acúmulo
(DUARTE et al., 2009; KASPER et al., 2009; KÜTTER
et al., 2009; BATISTA et al., 2011; EFSA, 2012; TONG et
al., 2012; BOSCH et al., 2016). Desta forma, os efeitos
benécos do consumo de pescado e os riscos por
acúmulo de mercúrio podem variar de acordo com as
espécies, forma de captura, bem como a quantidade
e a forma de consumo.
O aumento da preocupação da população em
relação à presença de certos contaminantes no peixe,
ao lado do reconhecimento dos múltiplos benefícios
nutricionais relacionados à inclusão do peixe na
dieta têm levado a questionamentos sobre quanto
consumir e quais populações (crianças, adultos,
mulheres grávidas) devem consumir para minimizar
os riscos à saúde e maximizar os efeitos benécos do
consumo de peixes (MERGLER et al., 2007; WHO/
FAO, 2011; EFSA, 2012; SANTOS et al., 2013). Desta
forma, o objetivo do trabalho foi avaliar os teores de
mercúrio total em atuns da costa brasileira e calcular
a exposição alimentar da população brasileira a esse
contaminante oriunda do consumo da espécie citada.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de atuns (Thunnus sp.) analisadas
foram obtidas de indústrias pesqueiras e são
representativas da costa litorânea brasileira nos anos
de 2014 e 2015. As referidas indústrias encaminharam
as amostras em postas congeladas (100 a 200 g cada
posta) ao Laboratório de Bioquímica de Alimentos
da Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal
de Minas Gerais - UFMG, aonde foram realizadas
as análises.
As postas recebidas de cada amostra foram
trituradas e homogeneizadas para análise de
mercúrio por espectrometria de absorção atômica
de combustão após amalgamação em ouro (USEPA,
2007). Foram pesados, diretamente em barca de
níquel previamente lavada e seca, aproximadamente
20,0 mg do tecido muscular homogeneizado. Em
seguida, a barca de níquel foi introduzida no DMA-
80 (Direct Mercury Analyzer, Milestone Inc., Sorisole,
Itália) acoplado aos ltros de ar DD12 e PD12 (Atlas
Copco, Örebro, Suécia) e ao ltro Centurium (Arprex,
Rio de Janeiro, Brasil) para análise automatizada. A
leitura da absorbância foi a 253,7 nm e a concentração
do mercúrio foi obtida por interpolação em curva
analítica na matriz construída na faixa de 1 a 8,5 ng
de mercúrio com seis pontos equidistantes avaliados
em triplicata (R
2
= 0,9909). O limite de detecção do
método foi 0,0009 mg kg
-1
.
Para o cálculo de exposição da população
brasileira ao mercúrio presente em atuns, foi
utilizado o modelo determinístico (Exposição =
{∑[concentração de mercúrio (μg kg
-1
) x consumo
alimento (kg)]/peso corpóreo (kg)}), conforme
recomendado por JARDIM e CALDAS (2009).
Devido ao longo tempo de meia vida no corpo
humano (cerca de 1,5 a 2 meses) e considerando
que os parâmetros toxicológicos são relacionados a
exposição crônica, o estudo foi baseado na avaliação
da exposição de uma dieta crônica.
Os dados da contaminação de mercúrio em
CUSTÓDIO et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
30
peixes foram os valores médios obtidos das análises
de mercúrio total realizadas nas amostras de atuns
coletadas nesse estudo. O estudo utilizou uma
estimativa conservadora, considerando que toda a
proporção do mercúrio total presente no peixe era
metilmercúrio.
O consumo de carne de peixes de água salgada
pela população brasileira foi estimado a partir
dos dados brutos disponibilizados online (http://
downloads.ibge.gov.br/download s_estatisticas.
htm) da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geograa e
Estatística (IBGE) entre os anos de 2008 e 2009 (IBGE,
2011). A POF 2008-2009 forneceu dados de consumo
individual, obtidos de recordatórios alimentares,
registrados em dois dias não consecutivos, por
34.003 indivíduos, com idade de 10 anos ou mais.
Além dos dados de consumo alimentar individual,
foram coletados os dados antropométricos de cada
indivíduo. Dessa forma, o dado individual de
consumo foi dividido pelo valor de peso corpóreo
de cada indivíduo antes da obtenção da média e
percentis de consumo de peixes de água salgada pela
população brasileira. Nos relatos individuais, foram
incluídas também preparações culinárias e, portanto,
para obter o consumo dos peixes de água salgada,
foi necessário estimar o percentual desse alimento
em cada uma destas preparações a partir de livros
de receitas, conforme descrito por PAIS et al. (2014).
RESULTADOS
Foi detectado mercúrio total em todas as 52
amostras de atuns (Thunnus sp.) analisadas (taxa de
contaminação de 100%). Os conteúdos de mercúrio
total nas amostras variaram de 0,08 mg kg
-1
a 0,61
mg kg
-1
, com valor médio de 0,22 mg kg
-1
(mediana
= 0,20 mg kg
-1
). Todos os valores encontrados estão
inferiores aos limites máximos estabelecidos pela
legislação brasileira (BRASIL, 2013), referentes a
peixes predadores (1,00 mg kg
-1
), visto que atuns são
peixes carnívoros estritos.
Um sumário dos dados de consumo de peixes de
água salgada no Brasil, contaminação por mercúrio total
e estimativa de exposição está apresentado na Tabela
1. O consumo médio e o percentil 97,5 do consumo da
população total foram estimados considerando todos
os indivíduos que participaram do levantamento de
consumo alimentar realizado pelo IBGE (2011), tendo
consumido ou não peixes de água salgada. Como o
mercúrio apresenta um efeito cumulativo, o parâmetro
de segurança estabelecido pelo JECFA (2007) está
relacionado ao consumo semanal.
Parâmetros
Consumo de peixes de água salgada pela população total
a
Teor de mercúrio
total
b
(µg kg
-1
)
Exposição
(µg kg
-1
p.c.
semana
-1
)
Diário
(g dia
-1
p.c.
-1
)
Semanal
(g semana
-1
p.c.
-1
)
Média
0,109 0,763 218,6 0,17
c
Percentil 97,5
0,354 2,478 466,9 0,54
d
p.c.: peso corpóreo.
a
Fonte: POF2008-2009 (http://downloads.ibge.gov.br/downloads_estatisticas. htm);
b
n/n+: número total
de amostras / número de amostras positivas = 52/52;
c
Exposição obtida com a média do consumo de todos os indivíduos
da POF2008-2009.
d
Exposição obtida com o percentil 97,5 do consumo de todos os indivíduos da POF2008-2009.
Tabela 1. Estimativa do consumo de peixes de água salgada por brasileiros, contaminação de atuns por mercúrio
total e avaliação da exposição crônica ao mercúrio pela população brasileira.
A estimativa da exposição humana crônica foi
avaliada pela multiplicação da média de consumo da
população total por peso corpóreo (p.c.) de peixe de
água salgada com a média de contaminação. Como
a taxa de contaminação de mercúrio nos peixes foi
elevada, seguiu-se a recomendação de se calcular a
ingestão apenas com a estimativa da média (middle
bound). Desta forma, a estimativa da exposição
humana crônica ao mercúrio cou em 0,17 µg kg
-1
de peso corpóreo por semana para a população total
e 0,54 µg kg
-1
de peso corpóreo por semana para os
altos consumidores (percentil 97,5 do consumo).
Para caracterizar o risco da exposição da população
brasileira ao mercúrio pelo consumo de atuns,
comparou-se a ingestão calculada com o parâmetro
toxicológico de ingestão segura. Foi considerada uma
situação de potencial risco à saúde da população
quando a exposição estimada ultrapassa o valor de
referência. Para a exposição crônica, utilizou-se a
PTWI (ingestão semanal tolerável provisória) do
metilmercúrio de 1,6 μg kg
-1
de peso corpóreo por
semana (JECFA, 2007). É importante ressaltar que
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Estimativa da exposição humana ao mercúrio pelo consumo de atuns...
31
os valores de contaminação dos atuns considerados
no estudo foram de mercúrio total, seguindo uma
estimativa conservadora, considerando que toda a
proporção do mercúrio total presente no peixe era
metilmercúrio.
Na Tabela 2, é possível observar a comparação dos
valores estimados para a exposição ao mercúrio pela
população brasileira com o parâmetro de ingestão
segura para a exposição crônica. A ingestão estimada
neste estudo não ultrapassou a dose de referência.
População Exposição (µg kg
-1
p.c. semana
-1
)
Parâmetro de ingestão segura
(µg kg
-1
p.c. semana
-1
)
% do parâmetro de
ingestão segura
População total
0,17
a
1,6 11
Altos consumidores
0,54
b
34
p.c.: peso corpóreo.
a b
Exposição obtida com a média do consumo de todos os indivíduos da POF2008-2009;
b
Exposição
obtida com o percentil 97,5 do consumo de todos os indivíduos da POF2008-2009.
Tabela 2. Caracterização do risco da exposição ao mercúrio pela população brasileira.
Parâmetros / Regiões do
Brasil
Consumo de peixes de água salgada pela
população total
a
Teor médio de
mercúrio total
(µg kg
-1
)
Exposição
(µg kg
-1
p.c.
semana
-1
)
b
Diário
(g dia
-1
p.c.
-1
)
Semanal
(g semana
-1
p.c.
-1
)
Norte
0,320 2,240 218,6 0,490
Nordeste
0,202 1,415 0,309
Centro-Oeste
0,012 0,084 0,018
Sudeste
0,127 0,892 0,195
Sul
0,056 0,392 0,086
p.c.: peso corpóreo.
a
Fonte: POF2008-2009 (http://downloads.ibge.gov.br/downloads_estatisticas. htm);
b
Exposição
obtida com a média do consumo de todos os indivíduos da POF2008-2009 estraticados por região do Brasil.
Tabela 3. Estimativa do consumo de peixes de água salgada por brasileiros e avaliação da exposição crônica ao
mercúrio por Região do Brasil considerando os valores médios da contaminação de atuns por mercúrio total
Na Tabela 4, estão as comparações dos valores
estimados para a exposição ao mercúrio pela
população brasileira em cada região do país com
o parâmetro de ingestão segura para a exposição
crônica. A ingestão estimada neste estudo não
ultrapassou a dose de referência em nenhuma região
considerando o consumo de peixes de água salgada.
Região do Brasil
Exposição (µg kg
-1
p.c. semana
-1
)
a
Parâmetro de ingestão segura
(μg kg
-1
p.c. semana
-1
)
% do parâmetro de
ingestão segura
Norte
0,490 1,6 30,6
Nordeste
0,309 19,3
Centro-Oeste
0,018 1,1
Sudeste
0,195 12,2
Sul
0,086 5,4
p.c.: peso corpóreo.
a
Exposição obtida com a média do consumo de todos os indivíduos da POF2008-2009 estraticados
por região do Brasil.
Tabela 4. Caracterização do risco da exposição ao mercúrio pela população brasileira nas diferentes regiões.
DISCUSSÃO
Níveis semelhantes de contaminação a mercúrio
foram encontrados em outros estudos realizados no
Brasil com atuns frescos e enlatados (DUARTE et al.,
2009; BATISTA et al., 2011). MORGANO et al. (2011)
encontraram valores médios superiores e faixa de
concentração mais ampla, no entanto, nenhuma das
21 amostras de atuns (Thunnus thynnus) ultrapassou
o limite da legislação brasileira. Trabalhos mais
recentes de MORGANO et al. (2014) indicaram nível
de contaminação médio mais alto (0,409 mg kg
-1
) e
inconformidade com a legislação brasileira de 22%
das amostras de T. thynnus analisadas.
Em estudos fora do Brasil, foram observados
níveis de contaminação de peixes com mercúrio
CUSTÓDIO et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
32
mais amplos. AFONSO et al. (2015) encontraram
teores mais elevados de mercúrio total em atuns
crus em Portugal (0,916 mg kg
-1
), mas todas as
amostras analisadas estavam com valores abaixo
aos da legislação brasileira e internacional. ARAÚJO
e CEDEÑO-MACIAS (2016) encontraram teores
de mercúrio de 1,4 ± 1,3 mg kg
-1
em T. albacares da
costa Equatoriana com 55% de inconformidades,
considerando o limite de 1,00 mg kg
-1
de mercúrio.
Em termos percentuais, a comparação dos
valores estimados para a exposição ao mercúrio
pela população brasileira com os parâmetros de
ingestão segura indica valores baixos para a média
da população. No entanto, sabe-se que a população
consome diferentes tipos de peixes e vários deles
de água doce e ainda há diferenças signicativas de
consumo entre as regiões e estados do Brasil (IBGE,
2011). Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste,
a
média de consumo de peixes de água doce é
superior
à média de consumo de peixes de água
salgada.
Na região Norte, o consumo de peixes de água
doce é quatro vezes maior que o consumo de peixes
de água salgada. Se o nível de contaminação ao
mercúrio dos peixes de água doce for similar ao
encontrado nesse estudo para atuns, a população
na região Norte do Brasil estaria ultrapassando o
parâmetro de ingestão segura para o mercúrio.
Desta forma, estudos mais amplos de exposição
ao mercúrio devem ser realizados por região e
estado,
incluindo ainda outras espécies tradicionais
de peixes, tanto de água salgada, quanto de água
doce.
CONCLUSÕES
Os teores de mercúrio total em atuns da costa
brasileira apresentaram valores abaixo dos limites
estabelecidos na legislação nacional e normas
internacionais. Em termos percentuais, a comparação
dos valores estimados para a exposição ao mercúrio
pela população brasileira com os parâmetros de
ingestão segura indica valores baixos para a média
da população, o que pode favorecer o aumento do
consumo desse peixe no Brasil. Sugere-se ainda um
estudo de exposição alimentar com modelagem
probabilística para uma caracterização do risco mais
renada e também a avaliação do teor de mercúrio
em outros pescados e a separação do consumo de
pescado nas diferentes regiões do país.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de Pessoal
de Nível Superior CAPES, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico CNPq
(Brasília, DF, Brasil) e Fundação de Amparo a
Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPEMIG
(Belo Horizonte, MG, Brasil) pelo apoio nanceiro.
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