Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Estimativa da exposição humana ao mercúrio pelo consumo de atuns...
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INTRODUÇÃO
A produção de pescado pelo Brasil continua
sendo representada majoritariamente pela pesca
extrativa marinha. Dentre os produtos dessa pesca
está o atum, que em 2009 apresentou uma produção
de 340,3 t e em 2011, aumentou para 1718,0 t (BRASIL,
2011). Apesar da importância da pesca na economia
brasileira e a relevância do consumo de pescado
para a saúde da população, o consumo alimentar
de pescado per capita no Brasil ainda está aquém do
recomendado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), que é de no mínimo 12 kg
-1
per capita por
ano (IBGE, 2011; WHO/FAO, 2011).
Em contraste com a importância do pescado
para a saúde humana relacionada à composição
em nutrientes, como proteínas e ácidos graxos poli-
insaturados ômega-3 (WHO, 2007; WHO/FAO, 2011;
SANTOS et al., 2013), os peixes podem contribuir
signicativamente na exposição alimentar de alguns
contaminantes orgânicos e inorgânicos. O mercúrio se
acumula na cadeia alimentar, sendo os peixes e frutos
do mar as principais fontes de exposição alimentar
para o homem (KASPER et al., 2009; KEHRIG et al.,
2010; WHO/FAO, 2011). As formas orgânicas do
mercúrio são altamente lipossolúveis e se acumulam
principalmente no cérebro humano, levando a
neurotoxicidade. Fetos e crianças nas fases iniciais
de desenvolvimento são mais sensíveis à exposição
ao mercúrio podendo apresentar paralisia cerebral,
retardo do desenvolvimento de várias funções
psicomotoras, dentre outros sintomas (JECFA, 2007;
CLARKSON e MAGOS, 2006; MERGLER et al., 2007;
WHO/FAO, 2011).
O acúmulo de mercúrio é maior em algumas
espécies de peixes do que em outras. Fatores
como idade, tamanho do peixe, ambiente, e fontes
alimentares podem influenciar nesse acúmulo
(DUARTE et al., 2009; KASPER et al., 2009; KÜTTER
et al., 2009; BATISTA et al., 2011; EFSA, 2012; TONG et
al., 2012; BOSCH et al., 2016). Desta forma, os efeitos
benécos do consumo de pescado e os riscos por
acúmulo de mercúrio podem variar de acordo com as
espécies, forma de captura, bem como a quantidade
e a forma de consumo.
O aumento da preocupação da população em
relação à presença de certos contaminantes no peixe,
ao lado do reconhecimento dos múltiplos benefícios
nutricionais relacionados à inclusão do peixe na
dieta têm levado a questionamentos sobre quanto
consumir e quais populações (crianças, adultos,
mulheres grávidas) devem consumir para minimizar
os riscos à saúde e maximizar os efeitos benécos do
consumo de peixes (MERGLER et al., 2007; WHO/
FAO, 2011; EFSA, 2012; SANTOS et al., 2013). Desta
forma, o objetivo do trabalho foi avaliar os teores de
mercúrio total em atuns da costa brasileira e calcular
a exposição alimentar da população brasileira a esse
contaminante oriunda do consumo da espécie citada.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de atuns (Thunnus sp.) analisadas
foram obtidas de indústrias pesqueiras e são
representativas da costa litorânea brasileira nos anos
de 2014 e 2015. As referidas indústrias encaminharam
as amostras em postas congeladas (100 a 200 g cada
posta) ao Laboratório de Bioquímica de Alimentos
da Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal
de Minas Gerais - UFMG, aonde foram realizadas
as análises.
As postas recebidas de cada amostra foram
trituradas e homogeneizadas para análise de
mercúrio por espectrometria de absorção atômica
de combustão após amalgamação em ouro (USEPA,
2007). Foram pesados, diretamente em barca de
níquel previamente lavada e seca, aproximadamente
20,0 mg do tecido muscular homogeneizado. Em
seguida, a barca de níquel foi introduzida no DMA-
80 (Direct Mercury Analyzer, Milestone Inc., Sorisole,
Itália) acoplado aos ltros de ar DD12 e PD12 (Atlas
Copco, Örebro, Suécia) e ao ltro Centurium (Arprex,
Rio de Janeiro, Brasil) para análise automatizada. A
leitura da absorbância foi a 253,7 nm e a concentração
do mercúrio foi obtida por interpolação em curva
analítica na matriz construída na faixa de 1 a 8,5 ng
de mercúrio com seis pontos equidistantes avaliados
em triplicata (R
2
= 0,9909). O limite de detecção do
método foi 0,0009 mg kg
-1
.
Para o cálculo de exposição da população
brasileira ao mercúrio presente em atuns, foi
utilizado o modelo determinístico (Exposição =
{∑[concentração de mercúrio (μg kg
-1
) x consumo
alimento (kg)]/peso corpóreo (kg)}), conforme
recomendado por JARDIM e CALDAS (2009).
Devido ao longo tempo de meia vida no corpo
humano (cerca de 1,5 a 2 meses) e considerando
que os parâmetros toxicológicos são relacionados a
exposição crônica, o estudo foi baseado na avaliação
da exposição de uma dieta crônica.
Os dados da contaminação de mercúrio em