
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Qualidade nutricional, microscópica e sanitária de “farinha” de piracuí...
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A elevada quantidade de partículas ósseas de
tamanho representativo, observadas na análise de
contaminantes macroscópicos realizada nas amostras
avaliadas pode ter inuenciado nos teores de cinza,
uma vez que essas partículas foram retiradas da
amostra antes da realização das análises. Nos demais
trabalhos citados não foram relatados presença
de partículas desse tamanho e nem mesmo nessa
quantidade, o que se supõe uma maior trituração
das mesmas no momento do preparo da “farinha”
de piracuí, que, consequentemente, cou com maior
teor desses nutrientes.
As amostras de piracuí avaliadas apresentaram
contaminantes físicos macroscópicos como espinha,
fragmentos de pele, vértebras, e escamas. Encontrou-
se em maior quantidade espinhas e vértebras, que
variaram de tamanho de 3 mm a 70 mm (Figura 1).
Segundo a RDC Nº 14, de 28 de março de 2014 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
(BRASIL, 2014), que dispõe sobre matérias estranhas
macroscópicas e microscópicas em alimentos e
bebidas, são matérias estranhas indicativas de risco
à saúde humana, podendo causar danos à saúde do
consumidor, os objetos rígidos, pontiagudos e ou
cortantes, iguais ou maiores que 7 mm (fragmento
de osso e metal; lasca de madeira; e plástico rígido),
ou seja, os fragmentos encontrados nas amostras
de piracuí, deste presente trabalho, estavam em
desacordo com essa legislação, apresentando
matérias estranhas de tamanho 10 vezes maior que
o permitido.
O peso dos contaminantes macroscópicos
encontrados neste trabalho foram inferiores aos
encontrados na literatura, onde se observa resultados
com valor médio de 14,66 unidades.100g
-1
para o
mesmo tipo de amostra (SANTOS e FREITAS, 2004).
Outro fato observado foi a presença de vértebras
de mais de uma espécie de peixe no produto,
conforme ilustra a Figura 1 (a, b), isso conrma que
o produto não possuía padronização e que não foi
produzido apenas da espécie acari-bodó (Lipossarcus
pardalis) como cita a literatura (FERNANDES e
MONTEIRO, 2001).
A análise microscópica demonstrou contaminação
elevada do produto, com matérias estranhas
consideradas capazes de veicular agentes patogênicos,
indicativos de falha de Boas Práticas de Fabricação
(BPF) e impurezas como insetos, conforme pode
ser observado na Figura 2. Segundo a legislação
brasileira, esse tipo de contaminante não deve estar
presente, em nenhuma quantidade, em alimentos e
bebidas por indicar riscos à saúde humana (BRASIL,
2014).
Sendo assim, sugere-se que este produto receba
maior atenção por parte dos órgãos scalizadores,
pois o mesmo, embora amplamente consumido
por determinadas populações brasileiras, não tem
padronização, tanto no que diz respeito à matéria
prima a ser utilizada na sua elaboração, quanto
ao seu processo de produção, armazenamento e
comercialização.
Dessa forma, suas características físico-químicas,
microbiológicas e sensoriais poderão ser muito
variáveis, dependendo da amostra analisada.
Além disso, não há regularidade na sua produção
e o produto nal ca exposto a diversos tipos de
contaminantes que podem ser prejudiciais à saúde
dos seus consumidores.
Com relação a Aw, a maioria dos micro-
organismo cresce em meio com Aw no intervalo
entre 0,90 e 0,99, sendo que alguns permanecem
vivos por muito tempo em baixa Aw, embora
não se multipliquem nesse meio (BRASIL, 2014).
Observa-se que, mesmo não apresentando um meio
propício para desenvolvimento de micro-organismo
(baixa umidade e Aw), todas as amostras avaliadas
apresentaram altas contagens para mesófilos e
Staphylococcus coagulase positiva (Tabela 3).
Para análise de coliformes termotolerantes e E. coli
os resultados obtidos (Tabela 3) foram semelhantes
aos encontrados na literatura (NUNES et al., 2013).
Esses valores estão abaixo dos limites máximos
tolerados pela legislação brasileira vigente, que
estabelece contagem máxima de 10² NMP.g
-1
. Tal
resultado pode ser atribuído à ação bacteriostática
do sal e baixa Aw das amostras, que dicultam o
desenvolvimento desses micro-organismos.
A contagem de mesólos apresentou-se elevada
para as três amostras analisadas, demonstrando
que as condições higiênico-sanitárias no processo
produtivo desse produto foram insatisfatórias.
Embora a legislação brasileira não estabeleça
limites para micro-organismo mesólos, populações
elevadas podem reduzir a vida útil do pescado
(KIRSCHINK e VIEGAS, 2004). A International
Comission on Microbiological Specication for Food-
ICMSF estabelece o limite de 7 log UFC.g
-1
para a
contagem padrão em placas de micro-organismo
aeróbicos (ICMSF, 1998). Sendo assim, os valores
encontrados ficaram bem próximos dos limites
citados na literatura.
Para análise de Sthaphylococcus coagulase positiva,