RODRIGUES et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
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INTRODUÇÃO
O Concentrado Proteico de Pescado (CPP) tem
como requisitos básicos: baixo custo de produção,
baixo teor de gordura e umidade, facilidade de
estocagem, não necessitar de refrigeração e elevada
vida útil (SOUZA, 2010). Um produto que se
assemelha ao CPP é o piracuí. Produto regional e de
origem indígena secular, seu consumo é regular até
os dias de hoje na região norte do Brasil. Apresenta
pontos positivos, quando comparado com o CPP
tradicional, o que valoriza seu emprego local e
alternativo em dietas especiais e em programas de
suplementação alimentar (ALMEIDA, 2009). Foi
desenvolvido como uma alternativa econômica e
nutricional ao aproveitamento do excesso de pescado
fresco de baixo valor comercial, que mantém as
características nutricionais essenciais à alimentação
humana por um longo período de tempo (SANTOS
e FREITAS, 2004). Piracuí como o próprio nome
revela, é uma “farinha” feita de peixe (do tupi: pira=
peixe|cuí = farinha), que é produzida, geralmente
a partir do beneficiamento da espécie acari-bodó
(Lipossarcus pardalis) (FERNANDES e MONTEIRO,
2001). Para a produção do piracuí, os peixes são
cozidos ou assados, separando a carne da carcaça,
espinhas e placas ósseas. A carne separada é torrada
e homogeneizada continuamente sobre o fogo a lenha.
Durante o aquecimento a massa do peixe recebe sal
e as iscas (placas ósseas) menores são retiradas. O
produto nal, de textura semelhante a uma farinha,
é resfriado naturalmente e embalado (SLOW FOOD,
2007). A “farinha” de piracuí é um dos produtos
brasileiros que integra a Arca do Gosto, um catálogo
mundial que identica, localiza, descreve e divulga
sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de
extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos
e comerciais reais. O objetivo da arca é documentar
produtos gastronômicos especiais, que estão em risco
de desaparecer (MILANO et al., 2016). A Arca do
Gosto faz parte do movimento Slow food, que tem como
princípio básico o direito à alimentação, utilizando
produtos artesanais de qualidade especial, produzidos
de forma que respeite tanto o meio ambiente quanto
as pessoas responsáveis pela produção. O Slow food
se opõe à tendência de padronização do alimento
no mundo, e defende a necessidade de que os
consumidores estejam bem informados, se tornando
coprodutores (SLOW FOOD, 2007). O piracuí, embora
seja um produto que apresente as vantagens de alta
concentração de proteínas e uma vida de prateleira
consideravelmente alta, não tem qualquer tipo de
padronização ou mesmo está previsto na legislação
brasileira, mesmo sendo um produto de regular
consumo na região Norte do Brasil. Além disso,
há uma escassez de trabalhos cientícos sobre esse
produto, os que existem são incompletos ou com
poucas informações. Sendo assim, não há dados
consistentes e pertinentes para se estabelecer uma
padronização ou mesmo uma denição legal sobre
o piracuí. Dessa forma, sua caracterização faz-se
necessária para garantir a produção desse alimento
de forma segura, ou seja, livre de contaminantes que
possam causar prejuízo à saúde do consumidor. Assim
como, é uma oportunidade de divulgar o mesmo para
outras regiões do país.
Diante disso, este trabalho teve como objetivo
avaliar a qualidade físico-química, sanitária e sensorial
da “farinha” de piracuí comercializada na cidade de
Belém-PA, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas três amostras de piracuí (A1, A2
e A3) provenientes da cidade de Belém-PA, Brasil,
comercializadas em supermercado local em bandejas
de isopor cobertas com lme plástico. Cada amostra
foi composta por duas bandejas de peso médio de
250g cada. As amostras foram avaliadas segundo
suas características: físico-químicas, microbiológicas
e sensoriais, conforme descrito a seguir.
Análises físico-químicas
Para cada amostra avaliada (n = 3), as análises
foram realizadas em 03 réplicas, sem secagem
prévia das amostras e os valores expressos em
base úmida. A saber, foram realizadas as seguintes
análises: a) composição centesimal: umidade,
através da determinação de peso perdido pela
amostra em estufa a 105°C até o peso constante;
lipídeos totais, através do método de Soxhlet
utilizando como extrator o solvente éter de petróleo
(PREGNOLATTO e PREGNOLATTO, 1985); proteína
bruta, obtida pela determinação de nitrogênio total
pelo método de Micro Kjeldahl e conversão em
proteínas multiplicando-se o valor obtido pelo fator
de 6,25 (JOHNSON e ULRICH, 1974); cinza, através
da calcinação da matéria orgânica em forno mua a
550°C até obtenção de cor branca (PREGNOLATTO
e PREGNOLATTO, 1985; WINTERS e TENNYSON,
2005) e teor de carboidratos, obtido através de cálculo