Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Aceitação de preparações à base de carne mecanicamente separada... .
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INTRODUÇÃO
O pescado é um alimento de alto valor nutricional,
que deve ser consumido principalmente na infância,
e que se destaca por apresentar proteínas de
fácil digestibilidade, ser rica em aminoácidos
essenciais, constituindo uma boa fonte de vitaminas
e minerais, bem como, de ácidos graxos essenciais
da séria ômega-3 eicosapentaenóico (EPA) e
docosahexaenóico (DHA), cujo consumo está
associado à redução do risco de várias enfermidades,
incluindo o acidente vascular cerebral, Alzheimer
e de óbitos por doença cardíaca (SARTORI e
AMANCIO, 2012; CARDOSO et al., 2016).
Embora os benefícios do pescado estejam bem
estabelecidos e sejam amplamente divulgados, o
consumo médio de pescado estimado pela Pesquisa
de Orçamentos Familiares (POF), no Brasil, entre os
anos de 2008 e 2009, foi de 9,5 kg/hab/ano, muito
aquém das recomendações internacionais, que
preconizam seu consumo duas vezes por semana,
equivalente a 12 kg/hab/ano. Ao avaliar o consumo
por região, o Sudeste se destaca pelo baixo consumo,
estimado em 5,4 kg/hab/ano, superando apenas as
regiões Centro-oeste e Sul. Enquanto na região Norte,
o consumo do pescado foi equivalente a cerca de 38
kg/hab/ano (BRASIL, 2010
a
).
Vários fatores contribuem para esse baixo
consumo, entre eles a deficiente qualidade do
pescado, baixo rendimento e falta de incentivo para
os produtores (MACIEL et al., 2015). O relatório do
mapeamento da inclusão do pescado na alimentação
escolar (BRASIL, 2013), demonstrou que 66% dos
municípios brasileiros não incluíram o pescado
na alimentação escolar - AE, alegando várias
diculdades, dentre elas destacam-se: a diculdade
de acesso a fornecedores, falta de fornecedores e/ou
ausência de produtos no mercado, risco de espinhas,
custo elevado e infraestrutura inadequada para
estocagem e conservação.
A CMS (Carne Mecanicamente Separada), mais
conhecida como minced sh, tem apresentado uma
série de vantagens para o consumo de carne de
pescado, pois é constituída da porção cárnea do peixe
separada da pele e ossos em máquina desossadora
(CAC, 2003), apresenta ótimo rendimento, tratando-
se de um produto isento de escamas e espinhas
(FAO/WHO, 1994).
Além de permitir o melhor aproveitamento da
carne do pescado, esta tecnologia resulta em insumo
prático para a elaboração de produtos semiprontos,
de rápido preparo e isento de ossos e espinhas,
características imprescindíveis para a sua utilização
na alimentação escolar, como fonte proteica de
elevado valor biológico (SARTORI e AMANCIO,
2012). Sendo possível aplicar este produto com bons
resultados quanto à aceitação em formulação de pão
(CENTENARO et al., 2007), na obtenção de produtos
industrializados como sh burguer e almôndegas,
tirinhas empanadas, nuggets, embutidos como
salsicha e linguiça, visto que estes produtos são mais
aceitos, mais acessíveis e mais fáceis de preparar do
que o produto in natura. Pode-se, até mesmo utilizar
a própria CMS como um produto para uma série de
preparações domésticas como quibe, sopa, recheio de
tortas, bolinhos, refogado com legumes, entre outras
(NEIVA et al., 2011
a
;
NEIVA, 2011
b
).
A elaboração de CMS respeitando os critérios
sanitários e de qualidade apresenta propriedades
nutricionais, funcionais e sensoriais capazes de
torná-la matéria prima para diferentes preparações,
que sustentam o alto valor nutritivo do pescado a
um menor custo em relação às apresentações como
lé e peixes inteiros. Quanto à matéria prima mais
adequada a esta tecnologia, destaca-se a utilização
das espécies cultivadas ou provenientes da pesca
artesanal, de qualidade e ligada às tradições
gastronômicas de cada região.
Consideramos no presente estudo, o contexto
da segurança alimentar e nutricional do município
de Itanhaém, que em 2010 ainda apresentava um
percentual da população rural e urbana em extrema
pobreza, respectivamente, de 9,82 e 5,33%. A partir
do ano de 2007, com vistas a combater a insegurança
alimentar, foi implantado neste município, o
Programa de Aquisição de Alimentos - PAA,
resultando em uma melhora na qualidade de vida
e a ampliação gradativa de entidades e produtores,
bem como, pescadores beneciados (BRASIL, 2010
c
).
O conceito de segurança alimentar e nutricional,
consiste na realização do direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos de qualidade,
em quantidade suficiente, sem comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais, tendo como
base práticas alimentares promotoras de saúde
que respeitem a diversidade cultural e que sejam
sustentáveis (BRASIL, 2006). Dentro deste enfoque, o
objetivo deste trabalho foi avaliar a aceitação de duas
preparações a base de CMS de peixe, por crianças em
duas escolas públicas, localizadas em regiões que
abrigam população exposta a insegurança alimentar,
do município de Itanhaém, SP., Brasil.