SILVA et al.
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo
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INTRODUÇÃO
A Truta Arco-Íris (Oncorhynchus mykiss)
(Walbaum, 1792) foi introduzida nos rios das
regiões montanhosas do Sudeste brasileiro em
1949, por iniciativa do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), com objetivo de
promover o povoamento dos rios locais e oferecer
uma alternativa de pesca à população ribeirinha
(AMARAL, 2007). O mesmo autor descreve que
a partir de 1980 começaram a surgir pequenas
truticulturas nas regiões serranas do Rio de Janeiro.
A espécie, tipicamente de água doce, é encontrada
naturalmente em ambientes com correnteza
moderada a forte e água bem oxigenada e fria,
raramente ultrapassando 12°C no verão, embora
tolere temperaturas entre 0°C e 25°C (GALL e
CRANDELL, 1992; KAILOLA et al., 1993). A referida
região apresenta condições climáticas e topográcas
favoráveis ao desenvolvimento da espécie e atua
como polo econômico na produção de Trutas no Rio
de Janeiro, que em 2011 signicou o total de 3.277,
20 toneladas de peixes produzidos (BRASIL, 2011).
Segundo relatório da FAO (2016), “cada vez
mais pessoas dependem da aquicultura para
sua alimentação e rendimento”. Tal afirmação é
observada na região Serrana do Estado do Rio de
Janeiro, onde a maior parte dos produtores aquícolas
possui uma pequena unidade de beneciamento
associada à propriedade, na qual o pescado é
processado e segue para comercialização. De
acordo com o relato dos aquicultores locais, a
comercialização da Truta é feita, principalmente, nos
formatos inteira eviscerada ou em lé, resfriada ou
congelada, defumada ou não. Além disso, observa-se
também a produção e comercialização de produtos
derivados, como o patê de Truta.
Durante o processamento, o produto pode ser
contaminado por microrganismos deteriorantes
e/ou patogênicos, comumente relacionados a
doenças veiculadas por alimentos (DVA) (SOARES e
GONÇALVES, 2012). No Brasil, entre os anos 2000 e
2015, foram noticados 10.666 surtos de DVA, sendo
0,9% referente ao consumo de pescado, frutos do mar
e subprodutos processados (BRASIL, 2015).
Além disso, o pescado apresenta fatores
intrínsecos que facilitam a multiplicação microbiana,
como elevada atividade de água, pH próximo da
neutralidade e o alto teor de gordura, facilmente
oxidável; somados à fatores externos, como a umidade
relativa do ar e temperatura de armazenamento,
tornam o produto altamente vulnerável à rápida
deterioração (OGAWA e MAIA, 1999; FRANCO,
2006).
Porém, o beneficiamento e a conservação
adequados, associados às boas práticas de
manipulação e fabricação, criam condições
desfavoráveis para multiplicação microbiológica,
reduzindo-as a níveis aceitáveis durante um período
determinado desejável (GAVA et al., 2009). A
aplicação das Boas Práticas de Fabricação (BPF) reduz
perdas e prejuízos na produção e eleva a qualidade
e a segurança dos produtos (MAIA e DINIZ, 2009).
Um alimento seguro é aquele que não veicula DVA
para o consumidor, o que pode ser medido pela
análise de indicadores, como os microrganismos-alvo
estudados no presente trabalho.
Um método ecaz de avaliação da qualidade do
pescado beneciado é a manutenção do controle
microbiológico do produto como rotina nas indústrias
processadoras. Neste contexto, o presente trabalho
teve como objetivo avaliar a qualidade bacteriológica
de lés de Truta Arco-Íris processados em cinco
unidades de beneciamento da região Serrana do Rio
de Janeiro, a partir as seguintes análises: contagem
de Bactérias Heterotróficas Aeróbias Mesófilas
(BHAM), de enterobactérias e de Bactérias Ácido-
Láticas (BAL).
MATERIAL E MÉTODOS
Para traçar um perfil do beneficiamento de
Trutas na região estudada, foram visitados cinco
estabelecimentos processadores da espécie,
nomeados como entrepostos E1, F2, EV3, H4 e P5.
De cada entreposto, foram coletadas aleatoriamente
amostras de 200g de filés de Truta Arco-Íris
recém-processados, previamente embalados e
congelados, e acondicionados em caixa isotérmica
com gelo suciente para cobertura total das amostras,
atingindo temperaturas inferiores a 5°C. As amostras
foram encaminhadas em tempo inferior a cinco
horas ao Laboratório de Controle Microbiológico
de Produtos de Origem Animal da Faculdade de
Veterinária da Universidade Federal Fluminense
(UFF) para realização das análises bacteriológicas
(ICMSF, 1986; TAYLOR et al., 2015). As amostras
do pescado foram descongeladas em geladeira, sob
temperatura de refrigeração, por 24 horas antes das
análises. As contagens de Bactérias Heterotrócas
Aeróbias Mesólas (BHAM) e de enterobactérias