
Proceedings do VII SIMCOPE. Inst. Pesca, São Paulo,
Qualidade microbiológica no glaciamento de peixe-prego
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INTRODUÇÃO
O glaciamento é um método de conservação
amplamente utilizado na indústria de pescado que
visa a prevenção da desidratação e oxidação lipídica
do produto durante armazenamento prolongado em
congelamento. O procedimento consiste na aplicação
de uma fina camada protetora de gelo em toda
superfície do produto congelado (FAO e WHO, 2012).
Durante o armazenamento, a camada de gelo sofre
sublimação e impede o contato do ar com a superfície
do alimento, reduzindo a taxa de oxidação lipídica
e evitando a queimadura do produto causada pelo
frio (JOHNSTON et al., 1994; FAO e WHO, 2012).
Portanto, o glaciamento promove a preservação do
sabor, do aroma e da textura do pescado durante
congelamento e minimiza os efeitos do gotejamento
durante o descongelamento. Também, reduz a
perda de qualidade do produto diante as possíveis
utuações de temperatura no armazenamento e/ou
o uso de temperaturas inadequadas, e transporte,
distribuição e consumo incorretos (JACOBSEN e
FOSSAN, 2001; ZOLDOS et al., 2010).
A camada de gelo aplicada deve ser completa
e uniforme na superfície do pescado e possuir
espessura na, o que depende de fatores como o
tempo de glaciamento, a temperatura da água, e
o tamanho, o formato e a temperatura do produto
(JOHNSTON et al., 1994). O peixe congelado pode
apresentar até 12% do peso líquido declarado
referente ao glaciamento (BRASIL, 2017).
Segundo a legislação nacional e documentos
de referência internacionais, a água utilizada no
processo deve ser potável, principalmente por
integrar o produto final. Além disso, a água a
ser utilizada na indústria de pescado, conforme
legislação, deve sofrer hipercloração, ou seja,
receber de 2,5 x 10
3
a 5,0 x 10
3
de cloro livre por
litro de água, uma vez que o cloro é eficaz no
controle e redução da carga bacteriana. A água do
glaciamento também pode ser água do mar limpa
e/ou pode conter aditivos aprovados, previamente,
por órgão competente (CODEX ALIMENTARIUS,
1995). No Brasil, os aditivos permitidos na água
de glaciamento são determinados polifosfatos na
concentração máxima de 0,5 g por 100 mL (BRASIL,
1988). Contudo, diversas pesquisas têm sido
desenvolvidas visando a preservação de produtos de
pescado através do uso de outros aditivos na água de
glaciamento, alguns antimicrobianos, como extratos
de chá (LIN e LIN, 2005), proteína do soro do leite
(RODRIGUEZ-TURIENZO et al. 2011), solução com
quitosana (SOARES et al., 2015), óleos essenciais
(COBAN, 2013) e água eletrolisada fracamente ácida
(ZHANG et al. 2015).
O processo pode ser realizado por dois métodos,
a aspersão ou a imersão em água gelada, com
temperatura de 0° a 4°C (KOLBE e KRAMER, 2007).
Por possuir baixo custo e fácil aplicabilidade, o
método de imersão, ainda hoje, é o mais utilizado
em entrepostos de pescado de pequena e média
capacidade. Entretanto, JOHNSTON et al. (1994) não
recomendam a utilização deste método, porque, além
da camada de gelo formada variar bastante quanto a
espessura, por diferença de temperatura entre a água
e o pescado, o que pode implicar na desidratação
e oxidação do produto; outra preocupação nesta
metodologia é com a contaminação da água após
algum tempo de processamento. O uso do processo
sem o controle rigoroso da qualidade da água torna
a etapa uma preocupação para a qualidade nal do
pescado, sendo, portanto, de grande importância o
uso adequado das boas práticas de fabricação e de
higiene para promoção de um pescado seguro ao
consumidor.
Recomenda-se a renovação regular da água
potável resfriada dos contêineres para garantir que
não ocorra elevada carga bacteriana e contaminação
cruzada do produto, assim como prevenir o acúmulo
de resíduos (CODEX ALIMENTARIUS, 1995;
BRASIL, 2007; FAO e WHO, 2012). Entretanto, não
há um padrão de renovação da água estabelecido em
legislação, cando a cargo da indústria estabelecer o
controle de renovação da água do glaciamento, o que
pode resultar na contaminação e má qualidade do
produto nal. Além disso, apesar do glaciamento ser
uma tecnologia mundialmente utilizada na indústria
do pescado, não foram encontradas referências em
literatura que estude os efeitos da contaminação da
água de glaciamento no produto nal.
Assim, em conformidade com o exposto,
objetivou-se no presente trabalho avaliar a inuência
da água de glaciamento pelo método de imersão na
qualidade do pescado glaciado, além da qualidade da
água ao longo do processamento, em um entreposto
de pescado localizado no Rio de Janeiro, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
O produto de pescado selecionado para
glaciamento foi o lombo de Peixe-Prego (Ruvettus