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Arrastões transformam o fundo do mar em deserto

Além de matar muitos peixes e variadas espécies marinhas, a pesca de arrasto cria desequilíbrio ambiental, alertam especialistas.

Após a prática da pesca de arrasto para captura, principalmente, do camarão, o fundo do mar vira um verdadeiro deserto. Não só o crustáceo é levado, mas os corais, esponjas, algas, diferentes espécies de peixes e tudo o que estiver no caminho acabam sendo fisgados junto.

Além de matar muitos peixes e outras espécies marinhas, pesquisas revelam que a pesca de arrasto de profundidade é extremamente prejudicial também para o leito do mar. A prática desloca sedimentos que destroem o habitat de organismos que vivem ali.

“Os pescadores, além de pescar o camarão, acabam levando outras espécies durante o arrasto”, explica o professor de Biologia Marinha Maurício Hostim, doutor em Ecologia e Recursos Naturais.

“Muita vezes, são espécies para as quais não há interesse comercial, porque a rede pega tudo o que está no fundo. O arrasto é um problema por acontecer sempre na mesma área”, destaca.

Maurício acrescenta que a prática constante do arrasto acarreta um tempo de deserto ainda maior no fundo do mar.

Modificações

Doutor em Oceanografia Ambiental pela Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes), o professor Joelson Musiello enfatiza que os locais afetados por esse tipo de pesca já foram modificados diversas vezes.

“As redes de arrasto causam impacto direto no oceano, tanto na captura da biota aquática, que não é alvo da pescaria, quanto na degradação e no impacto ao leito do oceano”, frisou o professor, que também é pesquisador no Projeto de Estatística Pesqueira do Espírito Santo, executado pela Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), junto à Ufes e ao Instituto de Pesca (SP).

Sem pesca, local ganha vida

Locais que sofreram os efeitos da pesca de arrasto, que formam “desertos no fundo do mar”, voltam a ganhar vida quando acontece a paralisação das atividades pesqueiras, nos períodos de defeso, durante a fase de reprodução das espécies.

“Ainda não existem métodos para reduzir 100% os impactos da pesca de arrasto. A solução pode ser construída e idealizada em conjunto com os pescadores e pesquisadores, aliando o conhecimento empírico e científico”, afirma o professor Joelson Musiello, doutor em Oceanografia Ambiental pela Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes).

Musiello faz questão de lembrar que a pesca de arrasto de camarão apresenta uma grande importância social e cultural no Espírito Santo e no Brasil.

“Mas a ausência de informações atrapalha na elaboração e efetividade das ações de gestão pesqueira, que devem ser realizadas junto com os pescadores para uma pesca mais sustentável”.

O professor defende a importância da participação dos pescadores para a construção de novos equipamentos de pesca, que reduzam os danos ambientais. “Os métodos devem ser construídos e idealizados para reduzir os impactos, de acordo com as características locais. Por isso, devem ser construídos com os pescadores”.

Entenda

Pesca de arrastão

É feita por barco de pesca que opera redes de arrasto.

Em forma de saco, as redes são puxadas a uma velocidade que permite que o pescado seja capturado.

Além do pescado, corais, esponjas, algas e tudo o que estiver no caminho acabam sendo fisgados junto.

Assim, forma-se um verdadeiro deserto no fundo do mar, criando um desequilíbrio marinho.

Modificação da rede para reduzir os impactos

Novos métodos são estudados para reduzir os impactos no fundo do mar devido aos arrastões realizados para pesca.

O professor Maurício Hostim destaca que uma modificação na rede de arrasto, conhecida como BRD, do inglês Bycatch Reduction Devices (Dispositivos de Redução da Fauna Acompanhante), pode reduzir em mais de 60% a captura da fauna acompanhante, segundo pesquisas realizadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Esses dispositivos são elaborados a partir de modificações nas redes de pesca, permitindo assim que os outros organismos escapem durante as atividades de pesca.

Sustentável

O maior desafio atual, segundo os especialistas, é fazer com que mais pescadores se utilizem desses dispositivos. O principal objetivo é reduzir o impacto das atividades da pesca na biodiversidade marinha e manter os estoques pesqueiros em níveis sustentáveis.

“Com o aumento das embarcações, métodos precisam ser implantados para reduzir os impactos. Não foi encontrada uma maneira diferente para a pesca, principalmente do camarão. Então, é necessário que adotemos novos equipamentos”, analisa o professor.

“Os peixes ficam sem chances de se reproduzirem no local afetado pela prática”, afirma.


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