Além de matar muitos peixes e variadas espécies marinhas, a pesca de arrasto cria desequilíbrio ambiental, alertam especialistas.
Após a prática da pesca de arrasto para captura, principalmente, do camarão, o fundo do mar vira um verdadeiro deserto. Não só o crustáceo é levado, mas os corais, esponjas, algas, diferentes espécies de peixes e tudo o que estiver no caminho acabam sendo fisgados junto.
Além de matar muitos peixes e outras espécies marinhas, pesquisas revelam que a pesca de arrasto de profundidade é extremamente prejudicial também para o leito do mar. A prática desloca sedimentos que destroem o habitat de organismos que vivem ali.
“Os pescadores, além de pescar o camarão, acabam levando outras espécies durante o arrasto”, explica o professor de Biologia Marinha Maurício Hostim, doutor em Ecologia e Recursos Naturais.
“Muita vezes, são espécies para as quais não há interesse comercial, porque a rede pega tudo o que está no fundo. O arrasto é um problema por acontecer sempre na mesma área”, destaca.
Maurício acrescenta que a prática constante do arrasto acarreta um tempo de deserto ainda maior no fundo do mar.
Modificações
Doutor em Oceanografia Ambiental pela Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes), o professor Joelson Musiello enfatiza que os locais afetados por esse tipo de pesca já foram modificados diversas vezes.
“As redes de arrasto causam impacto direto no oceano, tanto na captura da biota aquática, que não é alvo da pescaria, quanto na degradação e no impacto ao leito do oceano”, frisou o professor, que também é pesquisador no Projeto de Estatística Pesqueira do Espírito Santo, executado pela Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), junto à Ufes e ao Instituto de Pesca (SP).
Sem pesca, local ganha vida
Entenda
Modificação da rede para reduzir os impactos
Novos métodos são estudados para reduzir os impactos no fundo do mar devido aos arrastões realizados para pesca.
O professor Maurício Hostim destaca que uma modificação na rede de arrasto, conhecida como BRD, do inglês Bycatch Reduction Devices (Dispositivos de Redução da Fauna Acompanhante), pode reduzir em mais de 60% a captura da fauna acompanhante, segundo pesquisas realizadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Esses dispositivos são elaborados a partir de modificações nas redes de pesca, permitindo assim que os outros organismos escapem durante as atividades de pesca.
Sustentável
O maior desafio atual, segundo os especialistas, é fazer com que mais pescadores se utilizem desses dispositivos. O principal objetivo é reduzir o impacto das atividades da pesca na biodiversidade marinha e manter os estoques pesqueiros em níveis sustentáveis.
“Com o aumento das embarcações, métodos precisam ser implantados para reduzir os impactos. Não foi encontrada uma maneira diferente para a pesca, principalmente do camarão. Então, é necessário que adotemos novos equipamentos”, analisa o professor.