Na aquacultura praticada em águas salgadas, a atividade mais comum é a criação de crustáceos e moluscos. Camarões, ostras, mexilhões e vieiras, no entanto, não são os únicos alimentos produzidos pela atividade nos mais de 8 mil quilômetros de extensão do litoral do Brasil. Para quem mora às margens da costa brasileira, há ainda espécies de peixes que podem ser fonte de renda, respondendo a um comércio crescente de carnes brancas e com baixo teor calórico.
Uma opção que gera lucros ao pequeno empreendedor na faixa litorânea do norte ao sul do Brasil é o bijupirá (Rachycentron canadum), habitante tanto das áreas costeiras quanto do alto-mar dentro dos limites do território nacional. Considerado um dos mais importantes peixes marinhos manejados em confinamento aqui, apresenta-se como um produto rentável para o criador.
O bijupirá tem boa resistência, aceita bem rações extrusadas e cresce rápido, podendo atingir de 6 a 8 quilos em um ano de cativeiro. Vale ressaltar, contudo, que o peixe ainda não conta com um domínio completo de pacote tecnológico de sua produção. Além disso, pela complexidade da desova das fêmeas e da larvicultura (formas jovens), ambas as fases são melhores desenvolvidas em laboratório.
Com a possibilidade de complementar a dieta alimentar com sobras de peixes, o bijupirá registra uma produtividade que possibilita ao criador atender à demanda de um mercado dependente da sua baixa captura no mar, devido ao hábito da espécie de formar pequenos cardumes de cinco a dez unidades. Ao mesmo tempo, o aumento do interesse do consumidor por uma alimentação saudável tem ampliado a procura por carnes magras, característica disponível na proteína oferecida pela maior parte dos pescados.
Além de sabor agradável, o filé obtido do bijupirá é firme e tem poucas espinhas. Para o consumo in natura, como sushi e sashimi, os asiáticos apreciam bastante a carne desse peixe migratório – que vive em águas tropicais e temperadas de vários oceanos. Sua cabeça é grande e achatada e o corpo, alongado. Tem capacidade para chegar a 2 metros de comprimento, embora a maioria dos exemplares atinja pouco mais de 1 metro.
O dorso e as laterais do bijupirá, que também é conhecido aqui como beijupirá, parambijú, tubarão-de-escama e cação-de-escama e, no mundo, como cobia, são na cor marrom-escuro, enquanto nos flancos identificam-se duas faixas pratas longitudinais. As escamas que cobrem o peixe são pequenas, mas profundamente fixadas na pele.
Mãos à obra
INÍCIO A aquisição de alevinos de bijupirá de laboratórios especializados é a recomendação para assegurar a sobrevivência do peixe, que tem no período de crescimento das larvas um processo complexo. A captura de matrizes em ambiente natural poderia ser uma opção, mas também não é indicada, sobretudo para iniciantes na atividade, devido às exigências da fase da larvicultura.
AMBIENTE De preferência em águas com temperaturas acima dos 20 ºC, predominante ao longo do ano entre o litoral norte da Bahia e o do Maranhão. Da costa do sul baiano até a de São Paulo, a criação pode ter restrições nos meses mais frios do inverno. Nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, indica-se criar somente no verão.
TANQUES-REDE Ou gaiolas flutuantes são as instalações ideais para o berçário e a engorda do bijupirá em águas rasas da costa oceânica, baías, enseadas ou em mar aberto – que, no caso, exige mais investimento, compensando apenas se utilizar um grande número de unidades de produção. Podem ser feitas de polietileno de alta densidade ou de madeira, em diversos tamanhos e formas. A densidade varia de três a seis peixes juvenis por metro cúbico, quantidade que depende da produtividade desejada. Uma alternativa também é o uso de viveiros estuarinos semelhantes aos adotados pelos criadores de camarão.
ALIMENTAÇÃO Inclui ração comercial extrusada para peixe carnívoro vendida em lojas de produtos agropecuários. Também podem ser fornecidos peixes que não possuem valor comercial, como exemplares oriundos de pesca de arrasto. Porém, devem ser frescos ou congelados, evitando os que estiverem em estado de deterioração, que são transmissores de doenças para a criação. Alimente o bijupirá de duas a três vezes ao dia, podendo alternar entre ração e os peixes. Não deixe sobrar alimentos no local, o que prejudica a qualidade da água.
CUIDADOS Apesar de ser um peixe resistente, o bijupirá é suscetível a algumas doenças, vírus, bactérias e parasitas, sobretudo em sistemas de criação intensiva. Por isso, deve-se ter atenção à sanidade dos exemplares desenvolvidos em cativeiro. Assim, recomenda-se solicitar o acompanhamento de um profissional com conhecimento para fornecer orientações no trato do pescado.
REPRODUÇÃO Concentra-se nos meses da primavera e do verão, após o bijupirá atingir um ano e meio de vida. As desovas são múltiplas ou parceladas ao longo da temporada reprodutiva, entre outubro e março. São gerados milhões de ovos esféricos e pigmentados, que eclodem em pouco mais de 24 horas depois de serem desovados. Em criação comercial, o bijupirá é induzido a se reproduzir por meio de controle do fotoperíodo e da temperatura da água.
RAIO X
(Publicado originalmente na edição 401 da Revista Globo Rural, em março de 2019)
Fonte: Revista Globo Rural, Abril/2019 (https://revistagloborural.globo.com)
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