A adição do probiótico à ração de tilápias em cultivo intensivo, aliada à vacinação, se mostrou a maneira mais eficaz no controle de infecções pela bactéria Streptococcus agalactiae, uma das principais doenças da piscicultura. Os resultados obtidos pelo Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, indicam o grande potencial da associação de micro-organismos vivos ou viáveis à alimentação de peixes e a relevância da vacinação nas criações animais.
“A S. agalactiae é uma das bactérias de maior prevalência em criações de tilápia no Brasil, causando altas taxas de mortalidade nos animais, principalmente no verão, quando a temperatura, aqui no sudeste passa dos 30-32ºC”, afirma Leonardo Tachibana, pesquisador do IP, que orientou a realização do trabalho, tema da dissertação de mestrado do biólogo Mateus Cardoso Guimarães. Para combater o problema, os pesquisadores resolveram adotar uma combinação de estratégias já existentes, porém normalmente usadas separadamente. “Alimentamos os peixes com probióticos e, depois, realizamos a vacinação contra a bactéria patogênica”, diz.
Probióticos são produtos compostos por micro-organismos vivos ou viáveis que trazem efeitos benéficos para a saúde dos animais. “Na pesquisa, adquirimos vários tipos de probióticos comerciais e testamos contra o S. agalactiae, primeiramente in vitro (em meio de cultura), para identificarmos qual causava inibição do crescimento da bactéria”, explica Tachibana. O produto que mostrou melhor eficiência no laboratório foi selecionado para testagem nos peixes, aliado à vacinação.
“No experimento, alimentamos os animais com probióticos, adicionado à ração, durante 21 dias, após os quais procedemos a vacinação dos peixes e uma revacinação duas semanas depois Passados mais 15 dias, realizamos uma infecção intencional com S. agalactiae para ver se as tilápias desenvolviam a doença”, afirma o pesquisador do IP, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). .
Os resultados animaram os pesquisadores. “Os peixes alimentados com probióticos e vacinados tiveram uma taxa de sobrevivência muito boa, próxima de 98%, ao passo que os que foram apenas vacinados tiveram uma sobrevivência menor - ainda que bastante superior à dos grupos controle, sem vacinação”, comemora Tachibana. “A aplicação conjunta de probióticos e vacinas se mostrou uma medida promissora para potencializar o controle e a prevenção de doenças em peixes”, agrega Guimarães.
Inovação ao lado do piscicultor
Conforme relata o pesquisador Tachibana, esse protocolo de tratamento, aliando probióticos e vacinação no combate à S. agalactiae, é inédito no Brasil. Entretanto, tanto as vacinas quanto os produtos probióticos já vêm sendo utilizados por piscicultores do país para combater doenças e melhorar o rendimento da produção. “Quando eu comecei a trabalhar com os probióticos, muita gente não acreditava. Hoje, está comprovado e uma parcela muito grande de produtores já utiliza”, celebra o especialista. De acordo com ele, cerca de 60 a 70% dos criadores de peixes já fazem uso da tecnologia - chegando a quase 100% no caso da criação de camarão. “Estamos desenvolvendo um novo probiótico, específico para tilápia, que será lançado no próximo ano”, assegura.
Guimarães segue a mesma opinião do orientador. “Os probióticos têm sido utilizados com sucesso na produção aquícola em todo mundo, tanto como estratégia para o controle de doenças, como por benefícios nos índices zootécnicos”, assinala o biólogo. “A administração de dieta probiótica em animais vacinados pode ser extrapolada para o setor produtivo, visando diminuir as perdas econômicas causadas por surtos durante o período de criação”, defende.
Quanto às vacinas, Tachibana afirma que há, hoje, apenas uma aprovada para uso comercial, registrada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). No entanto, acrescenta, é também autorizada a utilização das chamadas vacinas autógenas. “Nesse tipo de vacinas, coletam-se bactérias do próprio local de produção. Estas são isoladas, processadas (mortas pela adição de compostos químicos ou a altas temperaturas) e injetadas no lote de animais subsequente”, explica, pontuando que essa técnica tem também apresentado bons resultados. “Na presente pesquisa, utilizamos uma vacina experimental, fruto de uma parceria com o setor privado, que está em vias de registro para comercialização.”
O pesquisador lembra que existem outras vacinas comerciais seguindo os trâmites de registro, tanto contra S. agalactiae quanto outras bacterioses e, a longo prazo, acredita que seu uso vá se tornar muito comum na piscicultura. “Como a piscicultura intensiva de tilápia é algo relativamente recente, só agora estão surgindo empresas interessadas em desenvolver e registrar vacinas”, pondera Tachibana. O especialista vê com bons olhos essa inserção do setor privado à medida que traz mais opções para os piscicultores. “No mercado de criação de peixes a gente precisa dessa proteção, da produção de uma maior quantidade de vacinas, para podermos manter e aumentar a produção nacional”, enfatiza.
Um efeito importante da adoção da vacinação, segundo os pesquisadores, é a diminuição no uso de antibióticos. “Quando você começa a utilizar a vacina, passa a depender cada vez menos dos antibióticos para tratar as doenças que acometem os peixes - assim como ocorre com outros tipos de criação animal”, garante Tachibana. “Apesar de serem a opção mais eficiente quando não há vacina disponível, sabe-se que o uso de antibióticos a longo prazo não é sustentável”, menciona.
O uso prolongado desse tipo de medicamento, na visão dos autores do trabalho, pode ser problemático, levando à contaminação do ambiente e, se os protocolos adequados não forem seguidos à risca, ao aumento da resistência bacteriana. “Estamos vivendo tempos em que o mercado consumidor se torna cada vez mais exigente. Neste sentido, há uma forte pressão pelo banimento do uso de antibióticos na produção animal, bem como seu uso na prevenção de doenças em animais”, conclui o biólogo.
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