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Pesquisa sobre reprodução de espécie marinha ameaçada de extinção é conduzida pelo IP

Um gigante dos mares ameaçado de extinção. Assim podemos definir o mero, peixe marinho da família dos serranídeos que figura na lista vermelha das espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza e que desde 2002 tem sua pesca, transporte e comercialização proibidos no Brasil. O fato ligou o alerta de pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte do Instituto de Pesca (IP), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), que em meados de 2011 iniciaram estudos sobre a reprodução do mero no Laboratório de Piscicultura Marinha, localizado em Ubatuba, em parceria com pesquisadores da EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, e do Projeto Meros do Brasil, com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental.

 

Eduardo Sanches, pesquisador do IP e coordenador da pesquisa, explica que o objetivo do estudo com os meros é desenvolver um banco de sêmen da espécie, avaliar a variabilidade genética desses peixes e obter os primeiros exemplares produzidos em cativeiro. “O trabalho com o mero é um grande desafio, pois ainda temos pouco conhecimento a respeito de sua biologia e de sua manutenção em cativeiro”, explica Sanches.

 

Para ter ideia do tamanho do desafio, é preciso entender as especificidades do mero. Por ser um animal hermafrodita - o mesmo indivíduo tem ambos os sexos -, é necessário realizar a inversão sexual induzida dos peixes, a fim de se conseguir a fecundação dos ovócitos para a reprodução em cativeiro. “Os primeiros resultados que obtivemos nos deixaram confiantes. Não há registro na literatura de que com esta espécie já se tenha obtido sucesso nos procedimentos de inversão sexual. Mas nos primeiros 12 meses de manutenção destes peixes em Ubatuba, ainda em 2014, nós já havíamos conseguido realizar a inversão sexual e a produção de sêmen. Com espécies similares no Sudeste Asiático, foram necessários mais de quinze anos de pesquisa para o domínio da reprodução, como no caso do Giant Grouper, por exemplo ”, relata o pesquisador do IP.

 

Para conquistar tal avanço, a equipe do IP precisou coletar, com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), exemplares em diferentes pontos da costa brasileira, como nos Estados de Pernambuco, Sergipe e Bahia. Essa coleta foi necessária para garantir a variabilidade genética dos peixes capturados. Com isso, os pesquisadores conseguiram indivíduos de grupos diferentes para realizar os cruzamentos, assegurando que eles sejam mais distantes geneticamente.

 

Até o momento, a equipe do IP já realizou com sucesso o congelamento do sêmen e criou o primeiro banco de esperma da espécie. Agora, os pesquisadores se debruçam sobre a etapa de ovulação e produção de larvas para, enfim, obter os primeiros meros nascidos no laboratório do IP em Ubatuba. “Sem dúvida, essa pesquisa abre as portas para que a conservação da espécie possa ser efetivamente consolidada. O patrimônio genético dos atuais exemplares já está preservado. Isto é um avanço notável.”, enfatiza o pesquisador.

 

O embrião da pesquisa com os meros

 

O desenvolvimento da pesquisa com os meros, coordenada pelo pesquisador do IP Eduardo Sanches, só foi possível graças a outros estudos realizados pelo Instituto anteriormente e que culminaram no projeto denominado Serranídeos do Brasil, cujo objetivo é identificar o potencial de cultivo das principais espécies de serranídeos. “A primeira espécie dessa família a ser estudada por nossa equipe foi a garoupa-verdadeira. O Projeto Serranídeos possibilitou importantes avanços no cultivo deste peixe em cativeiro, elucidando importantes questões do ponto de vista de manejo desta espécie e propiciando a formação de um banco de reprodutores que permitiu iniciar pesquisas de inversão sexual, congelamento de sêmen, reprodução induzida e produção de formas jovens, visando à realização dos primeiros ensaios de engorda em escala massiva de serranídeos no Brasil”, relembra Sanches.

 

A partir das pesquisas realizadas com garoupas-verdadeiras, o Instituto de Pesca se tornou a única instituição a manter um banco de sêmen de serranídeos ameaçados de extinção e a criar protocolos para reprodução em cativeiro dessa família de peixes no Brasil. Os avanços conquistados nessa área despertaram o interesse de pesquisadores do projeto Meros do Brasil, que buscaram a parceria da equipe do IP para desenvolver as pesquisas sobre reprodução do mero e, com isso, obter os primeiros exemplares dessa espécie produzidos em cativeiro. “Com essa parceria, nós passamos a direcionar os esforços de pesquisa para o mero, e o Laboratório de Piscicultura Marinha do IP se tornou o Ponto Focal do Projeto Meros do Brasil em São Paulo”, conta.

 

Para o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, “o ineditismo das pesquisas com o mero desenvolvidas pelo IP demonstra a capacidade do Instituto em contribuir para a conservação da fauna marinha e gerar conhecimentos que, mais tarde, podem se traduzir em soluções para o setor produtivo, uma preocupação da pasta e do governador Geraldo Alckmin”.

 

 

Por Leonardo Chagas

Revisão Márcia Navarro Cipólli

 

 

Mais informações

Centro de Comunicação do Instituto de Pesca/APTA/SAA

(11) 3871-7588


Referência no Brasil, programa do IP monitora a produção pesqueira na costa de SP
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