Durante a 11ª edição do Congresso Brasileiro de Aquicultura e Biologia Aquática - Aquaciência, que aconteceu concomitantemente com o IV Encontro Latino-americano de Patologistas de Organismos Aquáticos (Elapoa), encerrado no último dia 14, em Campos do Jordão, pesquisadores e técnicos do Instituto de Pesca (IP-Apta) e da Apta Regional tiveram a oportunidade de apresentar um pouco do trabalho de ponta feito pelas instituições na área. Os dois institutos concentram as ações de pesquisa ligadas ao tema no âmbito da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP e sua atuação têm impacto direto sobre a cadeia produtiva do pescado no estado.
Com 32 trabalhos apresentados nessa edição, o IP se consolida como instituição referência quando se fala em pesquisa para a aquicultura paulista. Entre os destaques, cabe citar as ações voltadas à promoção da sanidade e o combate a doenças emergentes na piscicultura. A pesquisadora do IP Cláudia Maris Ferreira trouxe resultados preliminares de um projeto com apoio da Fapesp que pesquisou durante 3 anos o ISKNV [Vírus da Necrose Infecciosa do Baço e Rim], que acomete tilápias e é um patógeno emergente. “Fizemos um rastreamento para ver onde ele estava presente no estado de SP e também tivemos a oportunidade de mapear o genoma completo desse vírus”, diz Cláudia. De acordo com ela, os dados genéticos já estão disponíveis nos bancos moleculares e podem ser utilizados, por exemplo, como subsídio para fabricação de vacinas por outros grupos de pesquisa.
Outra descoberta que a pesquisadora levou para o Congresso foi que o ISKNV não tem sofrido mutações. “Encontramos que esse vírus, que foi oficialmente notificado no país em 2020, não se modificou nos últimos 5 anos. Isso significa que vai ser mais fácil fabricar uma vacina contra ele”, anima-se a especialista. Por outro lado, as pesquisas mostraram que, devido às mudanças climáticas, o vírus passou a surgir em períodos do ano que antes registravam poucos casos, deixando de apresentar caráter sazonal. “Outro resultado importante se refere ao isolamento desse vírus em cultivo celular. Com os recursos desse projeto Fapesp, pudemos montar no Instituto de Pesca um laboratório de cultivo celular que trabalha exclusivamente com células de organismos aquáticos, sendo um dos poucos do país com esse viés”, informa Cláudia.
Já Cibele Silva, técnica de apoio à pesquisa do IP e estudante do Programa de Pós-graduação do Instituto, apresentou no evento resultados preliminares de seu projeto de mestrado, que visou identificar algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos aquicultores paulistas. “Fizemos um levantamento dos desafios dos produtores que se apresentaram nas maiores feiras nacionais e internacionais da área de pescado no estado de SP, a Seafood Show e a Aquishow Brasil, nos anos de 2022 a 2024”, detalha Cibele. Dentro desses eventos, a técnica de pesquisa realizou entrevistas diretas com os produtores participantes e chegou a questões como transporte, logística, marketing, capacitação e treinamento e sanidade. A partir daí, agrupou os problemas em função do tipo de solução que demandariam, divididas em inovações tecnológicas e não-tecnológicas. “Fizemos essa classificação, aplicamos análises estatísticas e descobrimos que os desafios predominantes são de caráter não-tecnológico, como burocracia e legislação, por exemplo”, comenta a pós-graduanda. Segundo ela, um possível caminho passaria pela aproximação com atores da cadeia que desenvolvem soluções aplicadas. "Observa-se que, mesmo no universo dos grandes produtores, existe um espaço significativo para startups e spin-offs estabelecerem conexões comerciais entre a indústria, o setor produtivo e as instituições de P&D, promovendo novas oportunidades de negócio e parcerias estratégicas", avalia Cibele.
Mercado do pescado
Com foco em oferecer soluções tecnológicas que atendam às demandas produtivas de cada região do estado, a Apta Regional esteve presente no evento com trabalhos realizados em suas unidades de Presidente Prudente, Pariquera-Açu, Pindamonhangaba e Monte Alegre do Sul. No total foram 11 trabalhos voltados a diferentes aspectos da cadeia do pescado.
“Trouxemos para o Aquaciência alguns trabalhos relacionados a um projeto financiado pela Fapesp para estudar a cadeia produtiva de carne de peixe no Brasil, além de fazer uma avaliação estadual e também regional da oferta de produtos comercializados no varejo e da demanda dos consumidores”, coloca o pesquisador da Apta Regional de Presidente Prudente Ricardo Firetti. Dentre esses, o pesquisador destaca dois, relacionados à oferta de produtos de pescado em supermercados e à preferência dos consumidores por esses produtos. “No trabalho sobre a oferta de produtos de pescado no varejo, a gente levantou informações em 140 pontos de venda, situados em 23 cidades de 10 regiões de SP, e foram catalogados 5200 produtos”, conta Firetti. Na parte de demanda, a equipe entrevistou presencialmente 2600 pessoas para entender comportamento e preferências de consumo no estado todo, com um foco maior na região metropolitana de São Paulo. “Encontramos que, embora apenas 30% das pessoas hoje tenham um consumo semanal de pescado, cerca de 70% disseram que gostariam de poder consumir toda semana”, pontua o pesquisador, enfatizando que o preço de venda dos produtos é o maior entrave para o aumento do consumo.
Firetti aponta que a tilápia chamou atenção em ambos os levantamentos, sendo muito conhecida das pessoas e também muito encontrada no varejo, a ponto de estar presente em cerca de 20% dos produtos identificados na pesquisa de oferta. “Uma outra coisa muito interessante na parte da demanda é que, embora as pessoas comprem muito peixe congelado, a preferência ainda é por peixe resfriado e cortado no próprio local, compreendendo mais da metade dos entrevistados”, enfatiza o especialista.
Com a presença de pesquisadores de diversas unidades, o Aquaciência é também uma oportunidade para discutir parcerias e os rumos da pesquisa em aquicultura na Apta Regional. Além de Firetti, a equipe contou com Eder Pinatti, Eidi Yoshihara, Patrícia Turco, Sergio Schalch, Tatiana Ueno, Camila Corrêa e Célia Scorvo. “A participação no evento é uma forma de fortalecer a área de aquicultura dentro da Apta Regional”, conclui a pesquisadora Patrícia.
Sobre o Aquaciência
O Congresso Brasileiro de Aquicultura e Biologia Aquática - Aquaciência é o maior evento científico de aquicultura e biologia aquática do país. Promovido pela Aquabio desde 2004, reúne os principais expoentes da aquicultura nacional. Ao longo das onze edições realizadas, atrai um número cada vez maior de pesquisadores, estudantes, produtores e empresários do Brasil e do exterior que estão na vanguarda do conhecimento científico, com o propósito de inovar e fomentar o desenvolvimento da aquicultura sustentável e o conhecimento sobre a biologia aquática. A edição de 2025 aconteceu de 11 a 14 de novembro em Campos do Jordão-SP.
Informações à imprensa
Gustavo Almeida - gsalmeida@sp.gov.br
Luiza Cardoso - luiza.costa@sp.gov.br
Comunicação Apta







